“Esse é o modis de a gente se amar.”

Tem gente que mostra o seu amor se acarinhando.

Já outros preferem se beijar.

Já terceiros fazem da cama o seu lugar. Quartos elegem o quarto o seu lugar de amar.

Já aquela velha senhora. E seu senhor mais rodado em anos.

Ela com quinze dele se enamorou. Ele correspondeu àquele idílico amor.

Aos dezesseis, depois de um encontro fugaz no rela do jardim, passou a escrever cartinhas de amor a sua preferida. E como era belo e cortejado o rapagão. Endinheirado, de familia abastada. O pai era criador de gado. Moravam numa fazenda enorme. Da varanda da sede da fazenda Taioba se avistava, usando binóculo, uma boiada toda branca a se perder de vista.

Não só filho de fazendeiro graúdo Manoelzinho, ainda por cima, era um atleta consumado e consumido pelos exercícios contínuos. Exibia por baixo de sua regata músculos sarados e brilhantes. Dono de olhos verdes era em verdade candidato, se por acaso se aventurasse, a estrelar qualquer filme em Hollywood. Tendo como partner qualquer estrela de primeira grandeza. Fosse ela uma Greta Garbo ou uma Julia Roberts qualquer.

Acontece que Manoelzinho só tinha olhos e suspiros por sua namoradinha chamada Amanda.

Aquela mesma vista num domingo de janeiro. Andando ao revés, no rela da praça principal de sua Lavras amada.

Mas quis o futuro, que passeou feericamente, sem olhar pra trás. Que tanto Manoelzinho e Amanda escolhessem outro destino que não aquele de se casarem e terem filhos.

Manoela, menina estudiosa e esforçada, não tinha posses nem berço douro.

Nasceu pobre e na pobreza continuou. Não aceitava moeda nenhuma que fosse de um tio idoso cheio de grana. Que não tinha filhos nem aparentados que não fosse Amanda ainda bela.

Aos vinte e cinco amos Amanda, por ter rompido o namoro com o partidão do Manoelzinho.

Incidente acontecido por um flertizinho com um garoto não tão bonito como seu namorado, ambos decidiram, em comum acordão, dar um tempo enorme naquele começo de namorido que finou como um defunto recém falecido.

E ambos seguiram sua nova caminhada sem ao menos olhar atrás.

E a vida de novo colocou-os cara a cara. Foi no mesmo rela do jardim. Ele pra lá ela pra cá.

E não houve como apartá-los novamente. Pois o velho amor. Tão bem testemunhado naquelas cartinhas apaixonadas, escritas em papel timbrado com a marca de um batom ali cravado pelos lábios de um vermelho rutilante da bela Amanda. Acabou ressurgindo das cinzas insepultas e mais e mais apaixonadas ainda. E o desfecho não foi outro senão aqueloutro previsível ao altar.

Foi um casório modesto. Onde poucos convivas se fizeram presentes. Cada um trazendo um presente de acordo com suas posses.

Cinco curtos anos deixaram marcas indeléveis naquele casal.

Foi quando as desavenças tiveram início. Eram rusguinhas miúdas por razões díspares.

Ora era a falta de dinheiro que atormentava o ainda belo casal. Ora eram as crises de ciúmes da parte de Amanda. Por pensar que a ausência prolongada do belo marido tinha algo a ver com uma fulaninha de tal.

Mas mesmo assim o tempo esticava seus ponteiros no sentido adiante.

E tanto Manoel e Amanda envelheciam a olheiras vistas.

E ambos chegaram aos muitos anos e janeiros se sucederam a fevereiros, marços e abrils.

Foi, durante uma visita de médico, era um domingo risonho de janeiro. Quando cheguei à casa de Manoel e Amanda. Encontrei-os entre tapas e muitos beijos.

As discussões eram intermináveis. As diferenças de pensar me pareciam incontornáveis.

Descobri, no olho direito da bela Amanda. Um grande hematoma feito recente.

Pelos seus olhares tristonhos percebi que as brigas eram constantes. Por sorte deles não geraram filhos.

Não tive como evitar um dedo de prosa com o casal.

“Qual a razão de suas desavenças? O que os fazem brigar tanto? Por que não se separam e procuram a felicidade em outro ninho? E ficam às turras que podem levá-los a loucura”?

A resposta dada por Amanda me fez tomar uma inarredável decisão. Em briga de marido e mulher não se deve meter a colher.

E assim disse ela: “esse é o modis de a gente se amar.”

Calei-me de vez. Sem retrucar.

 

 

 

 

 

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