“Essa foi a consulta que mais gostei.”

Gostar de ir ao médico nunca foi minha diversão predileta.

Gosto sim. De correr pelas estradas. Ou nas esteiras da academia pra onde vou lá pelas três da tarde. De entrar na piscina com este calorão que tem feito neste começo de verão.

Da mesma maneira me apraz passar um final de semana na roça. Assistindo aos bezerrinhos famintos a espera de suas mães vacas chegarem ao curral. Ver, com estes olhinhos inquiridores os canarinhos da terra ciscando o esterco do curral. Subir na jabuticabeira. Depois de uma chuva criadeira. Disputando aquelas jabuticabas pretinhas com os marimbondos e abelhas abelhudas. Deixando as maiores e mais doces pra mim. As piores reservo aos insetos que sugam o sumo doce daquelas frutinhas. Que costumam encher o pé nos meses de dezembro ou novembro. Da mesma maneira adoro quando cavalgo minha égua Felicidade. Uma potranca de pura marcha, pelas minhas terras inclinadas e de boa qualidade. Assim como me satisfaz observar, de longe ou de perto, os tico ticos construírem seus ninhos em locais de fácil acesso. E eles coitadinhos permitem a uns pássaros negros apossarem-se de seu ninho. A fim de chocarem os próprios ovinhos. E deles eclodirem pássaros em nada parecidos aos ticoticozinhos. Pais postiços dos outros posseiros. E, assim que eclodem daqueles ovos pássaros nada semelhantes aos que os chocaram. Os papais tico ticos passam parte de sua vida a cuidar dos pássaros pretos. Como se fossem pais verdadeiros. E não passageiros da agonia. E, assim que os novos pássaros pretos aprendem a voar. Nunca mais os pais adotivos irão abraçar, asas abertas, aqueles ingratos e pervertidos pássaros negros da cor das noites escuras. E novo ciclo perpetua. Outros pássaros invasores de ninhos se apropriam do ninho errado. Feito com todo capricho pelo casal de tico tico.

Voltando ao título desse causo. Quando um paciente. Do meu consultório se despediu. Após apertar-me efusivamente as mãos. E esse paciente. Oriundo não de minha Lavras amada. E sim de uma cidade vizinha. A antes chamada de Pinheirinho. Nos dias de hoje ela é mais conhecida por Ingaí.

O motivo da consulta era simplesmente saber como estava de saúde a sua próstata. Com parcos queixumes referentes ao hábito de urinar. Já que seu jato ia longe. E não tinha dor à hora de exonerar a bexiga. E nem tinha nicturia ou disúria. E infecção urinária nunca deu no seu exame de urina. E este paciente trouxe-me todos de sua linda Ingaí. E todos, indistintamente deram como resultado normal.

Após levá-lo a sala de exame. Fazer, com seu consentimento um toque sem retoque. E constatar que apenas a sua pressão arterial estava preocupante.

Já defronte a mesa onde estou agora. Ele do outro lado ouvia atentamente as minhas conclusões. Sem receita a prescrever-lhe. Depois de explicações convincentes de que ele se encontrava em plena saúde. Fora o causo da sua elevada pressão arterial.

Ele daqui se evadiu alegremente.

Ainda me lembro do seu cumprimento.

Depois do nosso aperto de mãos.

“Essa foi a consulta que mais gostei.”

E eu também.

 

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