Meu pedacinho de sol

Imaginem vocês.

Esse mesmo astro rei. Com o tamanhão que foi criado. Quente como o diabo gosta.  A uma distância inimaginável aos vis mortais. Sabendo que nosso amado e judiado planeta gira no entorno dele. Como outros irmãos. Se por acaso nós, terráqueos. Conseguíssemos uma façanha inacreditável de dele retirar um nacozinho apenas. Uma fatiazinha menor que costumava comer do bolo feito por minha querida avozinha Belica. O que iria acontecer com nossa irrequieta boquinha ou, se aberta se transformaria numa bocona. Por certo ela iria se queimar devido a alta temperatura. Creio que muito mais de cem graus centígrados. Se a gente. Quando em visita à praia da cidade maravilhosa o quentume se eleva a quase quarenta graus sentimo-nos no inferno. Com umas diabinhas de traseiro em forma de pecado. Dotadas, e bem, de uma cinturinha de menos de não sei quantos centímetros de diâmetro. Com uma boquinha tinta em batom de um vermelho rutilante. Com suas pernocas mais roliças que os peitos de pombo. E, quando a gente se distrai toma um sonoro beliscão de nossa patroa mais brava do que a Juma do Pantanal.

Mesmo assim. À mercê de todos os pecadilhos e defeitos do velho sol. A ele faço uma declaração de amor incondicional.

“Meu amado SOL. Grafo todas as suas letras em maiúsculo. Pois você. Não vou chamá-lo de senhor pois tu és bem mais velho do que eu. Em respeito a ti sei que deveria tratá-lo respeitosamente de vossa excelência ou eminência. Minhas sinceras condolências a lua ou outro planeta invejoso do senhor. Muitos deles o invejam por sua cor de ouro. Já outros por terem de girar na sua órbita. A maioria, por puro despeito, não o respeita por sua temperatura altíssima. E outros invejam-no no por serem egocêntricos e acreditarem que na sua superfície feericamente iluminada não pode existir nenhum tipo de vida. A não ser a sua própria beleza incontestável e inconteste. Meu sol. Minha luz. Minha vida.”

Amo as manhãs ensolaradas. Sou, e sempre fui, dependente do clarume dos dias. Nada contra a chuva que tem caído além da conta. Mas, dado à tragédia que ela tem provocado rogo a Deus pai que ela descanse. Para que as cidades possam se recompor dos prejuízos causados pelas enchentes e deslizamentos de encostas.

Quando acordo. Quase sempre a mesma hora. Hoje me levantei antes das cinco. Abri a janela do meu quarto de tentar dormir. Como deixei escrito em várias crônicas tenho medo da noite. A escuridão me mete medo. Tenho receio que o bicho papão. Aquele que dizem comer as criancinhas venha me visitar e me devore cadinho a cadinho. E tenha uma indigestão pelo mau gosto de minha carne dura. E que ele comece pela minha cabeça dura e se empanturre pelo meu cérebro recheado de células pensantes.

Agorinha mesmo me conectei a três câmeras ligadas ao meu pedaço de sol à beira da represa do Funil. Que imagem magnifica as câmeras me fornecem.

Uma me mostra a enorme varanda e parte da casa do alto da colina gramada e bem conservada. A segunda os fundos da minha residência que me leva ao canil onde moram meus amados Clo e o pretinho Robson. Os quais, nessa hora da manhã devem estar famintos a espera do caseiro Tom Zé que vai alimentá-los dando-lhes água e ração de boa qualidade.

Já a terceira, a mais linda de todas, mostra-me o salão, a piscina dona de um azul piscina limpa. E um naco da represa do Funil. Que vão ser perenizados num lindo quadro a ser finalizado por uma pintora renomeada de nome Siomara Russi. Filha amada do meu querido revisor o professor Russi.

Sempre que me conecto à câmera um solzinho tímido logo perde a sua timidez e se transforma num sol maior.

E como me sinto bem a admirar. Mesmo de longe. Aquele meu pedacinho de sol a me fazer sentir nos braços do Senhor Nosso Pai. Cujo nome se assina Deus.

Não vejo a hora de o sábado chegar. É quando para ali parto. E chego em menos de meia hora a espera que o sol volte a brilhar. Com sua luminosidade máxima e maior.

 

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