Gostaria que fosse assim

Dia primeiro de abril. Mais um mês entra em cena no filme da vida.

Dia esse considerado da mentira.

Por qual razão é dito dia das inverdades?

No Brasil, o costume de celebrar o dia da mentira se estabeleceu em 1828, quando um jornal mineiro publicou uma noticia falsa sobre a morte do imperador Dom Pedro de número um, desmentida um dia depois.

Dai o costume de nesse dia se pregar peças nos noutros. Uma mentirinha aqui, outra acolá. Não se lixando para a cara feia dos colegas. Que de repente acreditam no boato. Que de fato não passa de um chiste. Uma mentira deslavada. Que corre de boca em boca, dai o meu conceito, não só meu, que da boca fechada não sai apenas palavrões. Como também pode deixar sair ilusões.  Falácias nas quais muitos acreditam. Mas não passam de meras mentiras. Ditas sem intenções malévolas.  Apenas palavras ocas sem serventia.

Em criança dizia mentirinhas a minha amada mãezinha.

“Mãe, não se preocupe. Estou um cadinho atrasado. Mas vou chegar a tempo de fazer a lição de casa. Estou jogando bola naquele campinho cambeta. Acabo de fazer um gol”.  Mas foi essa uma mentira deslavada em água suja. Deveras estava de namorinho com aquela menininha assanhada por detrás de uma moita de bambu.

Mentiras escorrem com os anos. Elas são inseridas nos meus textos a cada dia.

De vez em quando invento uma historinha. Crio personagens aleatoriamente.  Mas não pensem que eles não existem. Seu João foi um dos meus pacientes. O causo que contei dele não foi mais uma invencionice minha. Em parte aconteceu.  O resto corre por suas contas.

Nesse dia da mentira, nem todas elas gostaria que fossem assim, e não assado.

Gostaria de acreditar que tudo não passou de um fato consumado.  Que não perdi meus pais e eles continuam vivos pertinho do meu abraço.

Gostaria, em menino, de crer em Papai Noel.  No entanto, com o passar dos anos, passei a descrer naquela pessoinha de barbas nevadas. Com aquele oh oh gostoso a saudar as criancinhas, já que muitas delas não recebiam presentes no dia de natal.

Gostaria de acreditar num país melhor. Sem desníveis sociais tão acachapantes. Sem pedintes nas ruas a nos estender as mãos. Sem crianças ao desabrigo. Sem tanta miséria e violência a enlutar famílias que perdem seus entes queridos.

Gostaria, nesse dia primeiro, dia da mentira, de acreditar que mentiras fossem ditas sem intenções pecaminosas. Que elas não passassem de piadas de bom gosto. Que não causassem tanto desgosto as pessoas. Que são passadas pra trás e iludidas em sua boa fé.

Gostaria, nesse dia um do mês de abril, que tantas portas não fossem fechadas aos que precisam. Que sorrisos não fossem contidos. Que abraços não fossem guardados para o dia seguinte. Que pessoas, mesmo desconhecidas, se dessem as mãos. E que mentirinhas, como as minhas, em criança, fossem ditas com a mesma ingenuidade minha. Sem criar expectativas piores. Apenas com intenção de ludibriar mãezinhas. Amantes de suas crias. Com as quais mantinha sólidas relações de amizade e carinho.

Gostaria sim, nesse dia das inverdades, que toda falsidade fosse abolida da face da terra. Que as carências fossem sanadas. Que o desamor fosse enxotado pra sempre de nosso convívio diário.

Gostaria sim, que, não apenas nesse dia primeiro, como em outros dias no ano inteiro, a mentira não passasse desse dia primeiro. Mas se for dita que ela não tenha tanto peso em nossas relações cordiais. Que a mentira não seja passada adiante. Pois a boataria tem o desprazer de seguir em frente. E dar nomes aos bois errados. Causando um mal maior que deveria ter.

Encher-me-ia o coração de gaudio e prazer. Ao ver que toda mentira não iria passar de meras falácias. Peças trocadas num tabuleiro de xadrez. Em que o rei come a rainha. Desprotegida da defesa de um peão.

Gostaria que a mentira fosse transformada em verdade. Mas que fossem ditas apenas sem intenções piores.

Gostaria, ao final, de dizer a vocês, meus amigos. Em verdade vos digo. Se eu faltar com a verdade, entendam que ela  foi dita sem intenção de ferir a ninguém. Apenas e tão somente na tentativa inglória de incutir uma boa leitura a vocês.

Bem sei que a mentira tem pernas curtas.  E ela pode ir longe incomodando a todo mundo. Dai,  se acautelem com ela. Não só nesse dia um. Assim como noutros de sua vida. Desejo que suas vidas se alonguem muitos anos mais. Tendo a verdade como companheira. Dizendo mentiras apenas como as que dizia a minha querida mãezinha. Sem más intenções. Coisas e loisas de menino com a mente criativa como a minha.

 

 

 

 

 

 

 

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