Só quem ainda não sentiu aquele desconforto para urinar.
Principalmente as mulheres que me procuram no consultório.
Que já sofreram desse mal incontáveis vezes e as crises se repetem. E já se automedicaram no balcão das farmácias tomando medicamentos aleatoriamente sem resultados positivos. Bem sabem como dói à hora de urinar.
E elas me procuram a fim de receber o devido tratamento. E acabo medicando-as não sem antes tentar descobrir a causa dessas infecções repetitivas. Pedindo exames na intenção de esclarecer o motivo ou a razão de tamanho sofrimento.
Tempos depois elas retornam. Dizendo: “doutor, a minha cistite voltou. Já tomei vários antibióticos. E nada de sanar as minhas dores. O senhor pode me receitar aquele fármaco que tomei de outras vezes? Ele foi bom. Posso repetir a mesma dose”?
Bem sei, na minha vasta experiência, que aquela senhora, de certa idade, vai me procurar tempos depois. É um tal de encaminhar a paciente ao ginecologista, que me devolve tal e qual ela veio. Com os mesmos queixumes. Com a mesma receita de outras vezes.
Mas pra mim foi novidade aquela consulta a mim feita por um compadre. Seu Mané Bordoada, gente finíssima. Pessoinha sem defeitos. Fora bondade purinha. Se nele colocar asinhas elezinho vai direto pro céu.
Foi numa tarde de sábado que com ele estive.
Era outono com seu friozinho cheirando a inverno. Aquele friinho gostoso que faz com que os madrugões se aninhem na cama não sentindo nenhuma vontade de dela sair.
Mas quem diz que Seu Mané deixava de acordar bem cedinho? Antes das cinco da matina ele já estava tomando seu cafezinho.
Foi naquela madruga que com ele me deparei. Era por volta da volta das seis da manhã.
Foi elezinho quem puxou prosa. Das hoas, como de costume.
“Doutor. Sei que o senhor é médico especialista em doenças dos rins e vias urinárias. Que também entende de doenças dos machos. Trata das enfermidades de uma glândula, que quando incha acaba entupindo a saída da urina. E também cuida dos jovenzinhos que sofrem de uma pelinha que se parece a um bico de lamparina que se usava nos tempos idos quando faltava eletricidade. A tal fimose, não é doutor?
Acontece que a melhor vaca do meu curral. De nome Dorotéia. Batizada assim em honra e intenção da minha avozinha falecida no mês passado. A qual tinha um par de tetas gigantonas. Que se fosse vaca daria perfeitamente mais de quarenta litros de leite numa só tirada.
A tal vaca minha, quando amarrada nas patas traseiras, acaba chutando o balde de tanto urinar.
Já tentei de tudo pra ela se aquietar. Mas nada da jeito.
A Dorotéia seria uma vaca ansiosa? Bem sei que ela não tem parança. Como o senhor mesmo.
Tentando descobri a causa dessa urinação todinha fui ao Google.
Ali li que existe uma doença de nome cistite. Uma infecção na urina que faz as donas urinarem de hora em minutos.
“É verdade meu amigo”?
Naquela horinha exata me lembrei da dona Aurora. Uma adorável senhora que padece do mesmo mal da Dorotéia. A tal cistite recorrente. Agora resistente a quase todos os antibióticos.
Pensando no que responder ao amigo Mané Bordoada. Incomodado com a urinação da sua amada vaca Dorotéia. Que tal encaminhá-la ao ginecologista.
Vai ser duro convencê-la a ficar quietinha. Com as patas traseiras arqueadas. Sem se mexer um cadiquinho. A hora de fazer o toque.
Foi quando Seu Mané, já ordenhando a Dorotéia. Nela cochichou, na sua orelhona: “e ai, querida Dorotéia. Vamos ao médico das senhoras”?
Não sei qual a resposta que ela deu. Sei sim que ela mijou tão forte que acabou sobrando pra mim.