Não era essa a paz com que tanto sonhava

Por vezes me questiono: “onde encontrar a paz”?

Seria na solidão de um lugar ermo. Longe de tudo e de todos?

No bucolismo do campo. Distante da azáfama da cidade?

Na paz de uma criança dormindo. Na infância ou na longevidade?

Encontrar a paz não tem sido fácil. Nesses tempos difíceis por que temos vivido.

Sempre nos falta alguma coisa. Dinheiro, tranquilidade, na falta de ter amigos confiáveis.

Tenho tentado encontrar a paz aqui mesmo. Bem cedinho. Olhando o meu aquário. Vislumbrando o balé dos meus peixinhos famintos em busca de comida.

Escrever é uma maneira que descobri de tentar encontrar a tão almejada paz. Na solidão do meu consultório. Nessa hora tão temprana. Desse sétimo andar que me permite ver ao longe vestígios do meu passado. À mão esquerda a rua onde passei minha infância. Pena que a casa onde cresci não existe mais.

Tento encontrar a paz nos meus escritos. Dentro dos meus livros me sinto sossegado. Sinto-me como se fosse um dos meus personagens.  São tantos que invento que me sinto como se fosse um deles.

Não encontro mais a paz na medicina. Ela mudou tanto. Exames sofisticados tomaram a nossa investigação criteriosa. Não mais temos tempo para uma conversa esclarecedora. Olho no olho. Um aperto de mão amistoso. Pacientes que pensam que a gente tem interesse apenas no pago da sua consulta. E em contrapartida ignoram que o médico de hoje tem de se desdobrar em dois sendo apenas um.

Encontro a tão sonhada paz nos sábados que se avizinham. Quando deixo a minha indumentária costumeira dependurada no cabide.  Visto uma bermuda surrada nos tempos de calor. Uma botina gomeira serve de proteção aos meus pés. Uma camiseta velhusca que pode não voltar ao guarda roupa, pois meus cães amigos costumam fazer dela um trapo.

Encontro a paz no achego da minha família. Pertinho dos meus netinhos então não perco a paz mesmo sujeito as diabruras que eles fazem. Nos seus abraços encontro a paz.  Mesmo que eles não tenham a intenção de abraçar seu avozinho, pois seus tablets se tornam mais importantes.

Ontem se deu o fato.

De volta de uma pequena viajem.  Quando voltava de um percurso curto. Prestes a entrar na minha cidade. No trevo próximo a um posto de gasolina. Olhei pro lado e vi uma placa indicativa de um campo santo.

Ali se encontram os restos mortais de um amigo. Gente boa que nos deixou prematuramente.  Ainda me lembro do seu funeral. Ele foi velado no mesmo hospital onde trabalhávamos. Deixando saudades imensas do seu convívio afetuoso. De sua competência sempre pronta a deixar pacientes tranquilos na mesa de operação.

Não sei se o meu amigo e colega ali enfim encontrou a paz. Ele dorme na paz do Senhor.

Encontro, por vezes, a paz em vida. Mesmo que a sofreguidão da pressa me consuma.

Encontro a paz em muitos lugares. Mesmo nos lugares mais imprevisíveis.

No entanto, naquele lugar por onde passei, na manhã de ontem. Quando de volta de um curta viagem. De nome Parque da Paz, onde meu amigo foi sepultado.

Talvez não seja ali que afinal deseje encontrar a paz.

Enquanto estiver vivo vou procurar encontrar a paz aqui mesmo. Em meio aos meus escritos.

 

 

 

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