“Paulinho! Venha pra casa. É hora de ir à escola”.
E eu entrava naquela casa. Quando minha mãezinha intimava. Depois de me despedir dos amigos que naquela rua ficavam.
Já faz tantos anos que nem conto mais.
Naquela época contava com cerca de dez. Cinco se foram desde que me mudei pra aquela rua. Vindo de Boa Esperança onde nasci. Cidade próxima a minha onde passei os primeiros anos de minha vida.
Aquela casa tinha dois quartos na parte de cima. Um era dos meus pais. O segundo, que olhava pela janela. Era onde eu e meu irmão dormíamos. Com duas camas de solteiro. Uma mesinha onde estudava. E um espaçoso cômodo de banhos. Com uma banheira feita depois. Que quase nunca era usada.
Um corredor ligava nossos quartos a cozinha. Que era ligada a uma copinha onde tomávamos refeições corriqueiras. Logo ao lado era outra sala de jantar. Com uma mesa de vidro que nos tempos de agora repousa bucolicamente na minha rocinha. Olhando a piscina onde me refresco nos dias de muito calor.
Lado a lado existia uma sala espaçosa. Onde recebíamos as visitas nos tempos que lá se vão ao longe. Essa mesma sala, se bem me lembro, foi onde meu querido pai foi velado. Quando naquele dia infausto do seu passamento.
O melhor lugar daquela casa era uma linda varanda que olhava em direção a rua. Onde minha querida irmã Rosinha passava os dias cumprimentando os passantes. E como elazinha chamava pelos nomes corretamente todos os nossos vizinhos.
Descendo por uma escadaria meio íngreme chegávamos ao andar de baixo. Onde meu pai tinha um escritório. Bem modesto onde a velha Facit era usada. Onde ele fazia petições bem inspiradas. A velha máquina de escrever hoje descansa num quarto de cima da minha casa beira lago.
Naquela dependência feita anos depois morava outro quarto bem espaçoso. Uma cama velha não sei o que foi feito dela. Talvez tenha virado lenha nalguma fogueira. Ou tenha sido doada a alguém com mais precisão.
Numa hortinha logo abaixo ainda resiste um pé de jabuticaba. Não sei por quanto tempo ele vai durar. Bem menos do que eu com certeza.
Aquela velha casa foi demolida. Com ela se foi parte do meu passado. Dizem que ela era amais linda da rua. Como linda era minha família.
Quando da demolição fui catando coisas do meu passado. Garimpava livros que foram do meu pai. Ainda os tenho a enfeitar minha estante. Juntinhos aos meus. Mas esses livros, de tão antigos que eram não mais os leio. Simplesmente os deixo como enfeites. De tão belos que são.
Aquela velha morada não existe mais. Apenas e tão somente na minha imaginação.
Quando por ali passo. Revejo, num lampejo de ideias, aquela mesma varanda. A velha sala onde meu pai foi velado. A sala de jantar onde minha querida Rosinha assoprava velinhas nos seus aniversários. A outra copinha contígua a nossa cozinha. Com sua mesa azulejada. Com quatro lugares onde tomávamos refeições. E o corredor nanico que unia nossos quartos. E o espaçoso banheiro com uma banheira que poucas vezes foi usada. Ah! Já ia me esquecendo do banheiro dos meus pais. Intimamente ligado ao seu quarto de casal.
Quando passo por onde existia aquela velha casa, que agora não existe mais. Enchem-me as narinas um cheiro doce de saudades. Daqueles tempos bons que não voltam mais.