Descomplicando a vida

Naquele começo de outono Zé Candonga acordou, como de costume, exalando o cheiro de felicidade.

O sol acordou mais cedo do que ele. A azulice do céu fazia cegar os olhos.

Amanheceu um dia fresco. Um ventinho gostoso fazia esvoaçar as folhas mortas caídas no chão.

Nada o fazia apoquentar.

“Pra que esquentar a cabeça? Perder o resto dos meus cabelos se já não os tenho”?

Assim dizia meu amigo Zé. Apelidado de Candonga não se sabe o motivo.

Segundo consta no pai dos burros Candonga nada mais é do que- ação ardilosa, de má fé, carinho fingido, trapaça. Trocando em miúdos – candonguice.

Mas esse Zé nada tinha de trapaceiro. Não era um fingidor. Demonstrava carinho quando em verdade a pessoa merecia. Não tinha o costume de agir de má fé.

Zé vivia simplesinho numa rocinha modesta. Não tinha nenhuma vaidade. Vestia um terninho surrado herança do seu avozinho. Nas lidas diárias a ele bastava acordar bem cedinho. Tomar um cafezinho requentado na trempe do fogão à lenha. Lavar o rosto n´água bem fria para espantar o sono. Calçar uma botina gomeira furada na sola. Que nem dava meia sola. E ir a luta sem usar os punhos.

Zé era a personificação da simplicidade. “Nada de vaidade”- dizia ele.

Segundo constava no seu vocabulário escasso, para ser feliz basta bem pouco. Um sorriso no rosto. Saber enfrentar as dificuldades sem se dobrar a elas. Acordar ao cantar do galo. Enfrentar o trabalho sem se queixar. E dizer bom dia mesmo que não seja tão bom.

Naquela quase madrugada de outono Zé acordou bem disposto.

Do lado de fora da sua janela um ventinho maneiro assoprava. O sol, já de pé, iluminava o entorno. E as preocupações mais uma vez eram alijadas da sua cabeça sempre fresca.

A primeira providência do Zé foi alimentar a porcada faminta. Encheu os cochos de soro fresquinho. Um capado gordo a ele cumprimentou com um sonoro bom dia. E ele retribuiu com um muito obrigado.

Depois foi a vez de ir ao curral. A vacada já o esperava ruminando saudades. Feita a primeira ordenha, leite no balde, Zé partiu para roçar a pastaria. De foice na mão lá se foi ele, sempre alegre, cantarolando, dar conta daquele trabalho pesado. A tarde o encontrou sossegado. À sombra de uma velha amoreira ele tirava um cochilo.

A noite ele passou dormindo o sono dos justos. Mais um dia vencido. Trabalho não lhe metia medo.

Zé era a felicidade em pessoa. Não tinha pressa. Não se preocupava com o dia seguinte.  Vivia o hoje e o agora sem pensar no amanhã.

A idade que constava na certidão de nascimento do Zé era uma. Mas suas feições denunciavam bem menos que seus quase oitenta.

Zé parecia resistir ao tempo. Segundo ele pra que envelhecer?

Zé corria as léguas dos aborrecimentos. Caso preocupações o assediassem ele fugia delas.

Era um caso típico de pessoinha de bem com a vida. Que sorria mesmo nas adversidades.

Mesmo sem ter estudado sabia de cor e salteado a época melhor para o plantio. Quando a vaca vai dar cio. E quando o boi lhe cheira o traseiro não é por que gosta do cheiro. E sim por que ela está pronta para ser montada. E dai esperar o nascimento da cria.

Zé Candonga é um exemplo a ser seguido. Segundo seu modos vivendis pra que complicar o que deve ser descomplicado?

Viver bem é uma arte. Viva simplesmente e deixe os outros viverem. Dai a sua receita de felicidade.

 

 

 

 

 

 

 

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