A partir de certa idade não se deve olhar as horas.
Elas passam independentes de nossa vontade. Anos fogem do nosso controle. Dias se sucedem no calendário.
Ainda bem que a vida escorre desse jeito.
Imaginem se fosse o revés.
O tempo iria parar. O vento deixaria de assoprar. As flores não murchariam. As crianças continuariam sempre crianças.
Naquela doce idade da nossa infância. Quando tudo era cor de rosa. E o cinza não existiria.
Quando se chega a certa idade pra que viver muito mais? Desde que a saúde não nos abandone. Que os sonhos continuem a serem sonhados. Que a esperança em dias melhores não morra dentro da gente. Ai sim. Vale a pena continuarmos vivos. Admirando o nascer do sol. A lua se esconder no firmamento. As estrelas despontarem na escuridão do céu.
De hoje em diante não irei desistir dos meus sonhos. Continuarei a ter esperança de ver meus netinhos se encaminharem na vida. De ver aquela mudinha de árvore que plantei dar sombra aos que precisarem.
Pretendo, se me permitirem, seguir adiante por muitos anos ainda. Editar mais um livro. Escrever mais uma infinidade de crônicas que retratam esse cotidiano tão lindo.
De agora pra frente não penso ficar indiferente as mazelas por que passam o mundo. Sofro por excesso de sensibilidade. Enxergo além das entrelinhas. Condôo-me da dor alheia. Sofro por peculiaridade minha.
De hoje em diante penso permanecer com a mente recheada de memórias. Recordando-me do passado. Vivendo o presente e seguindo em frente. Mesmo que a rotina me enfade. Faça-me pensar em mudanças. Mas ao mesmo tempo pra que mudar? Se desse jeito me dou por satisfeito. Com a família linda que ajudei a criar. E assim pretendo seguir em frente. Até quando? Não penso, nem sequer imagino.
De agora em diante penso continuar a viver. Nessa vida que tanto me fascina. Nessa manhã parcamente iluminada. Com o céu cinzento, mas logo vai deixar o sol se abrir.
De hoje pra frente penso seguir minha caminhada por muitas léguas mais. Andando sempre. Seguindo adiante. A passos firmes e seguros. E, se precisar me amuletar, minhas pernas claudicarem. Não irei parar. Vou seguir em frente mesmo se o mundo se tornar indiferente ao meu clamor. Irei persistir na minha sina. Tentando incutir cultura em mentes obscuras. Inserindo letras e formando palavras. Em frases bem alinhavadas nessa minha Lavras que tanto amo.
De agora, nessa hora que passou. Aqui cheguei bem antes das seis. Nessa terça feira quase março fechando os olhos. Céu cinzento, macambúzio. Como sempre faço. Na minha rotina que não pretendo mudar. Como não mudo de roupa a cada dia. Irei seguindo em frente. Embora atrás não venha gente. Com passadas curtas e memória alongada.
E nessa toada sigo caminhando sempre. Adiante. Apesar de algumas vezes tenha de retroceder.
De hoje em diante pretendo continuar desse jeitinho, meio moleque, meio menino, apesar da idade que consome, nesses setenta e cinco anos bem vividos.
E, se um dia pensar em mudar, que seja de vida ou de costumes. Não irei deixar de seguir em frente. Mesmo que tenha de retroceder ao passado que tanto me seduz.