Dia do santo que deu o nome a outro não tão santo

“Que dia é hoje?”

Perguntava o garoto Juquinha a sua avozinha Dona Menina que já havia deixado a meninazinha há anos sem saber que dia seria hoje ou esturdia.

E repetia a pergunta, pois a sua avozinha, além de surda era zarolha e cega de uma perna só.

Cega de uma perna? Poderiam por em cheque a frase acima.

Cega de uma perna sim. Pois a outra que a ela restava além de manca era desequilibrada.

E cambota camboteava manquitola caindo em cada buracão que nem Deus dava conta de acudi-la. “Deus me acuda”. Troveja ela. Além de palavrões cabeludos que, caso fossem inseridos nesse texto de hoje cedo por certo seriam censurados.

“Que dia é hoje”? Retornava com a mesma questão o inquestionável Juquinha.

Ele era um garoto que, como eu, não amava os Beatles e os Rolling Stones.

Juquinha sim. Sentia verdadeira adoração pela sertaneja Roberta Miranda e mais ainda a linda Paulinha Fernandes. A quem endereçou uma cartinha de amor que o pombo correio não entregou pois outro garoto o estilingou com um estilingue na ponta do bico e elezinho caiu durinho na rua da amargura amargurada.

“Que dia é hoje?”

Mais uma vezinha o menino Juquinha, já impaciente com a falta de resposta, bravejava bravo à caduca de sua avó.

A velha caduca e surda como uma porteira, entendia a pergunta como sendo outra.

“Hoje ou ontem”? Voltava a pergunta ao seu sabidinho netinho.

E Juquinha, já pensando em sair de cena contracenava irritado.

“Vó! Que dia é hoje? Estamos no quase finado abril. Olha pra mim a folhinha e me diga qual data ela assinala. Por favor antes que eu me mude pra Pasárgada”.

Mal sabia a velha que Pasárgada é esta. Já que Pasárgada significa uma cidade idealizada como solução para os problemas. Uma espécie de refúgio, um local maravilhoso que só existe na imaginação do poeta. Onde há espaço para os prazeres da vida. Essa cidade fica na antiga Pérsia. Atualmente um sitio arqueológico na província de Fars, no Irã, situada a 87 quilômetros a nordeste de Persépolis.

Mas a avozinha de Juquinha, mais e mais perdida no tempo e no espaço caducava a cada vez que seu neto a ela perguntava que dia é esse.

Depois de quase ir embora pra Pasárgada, já havia feito as malas, cheias de esperança em lá encontrar resposta a sua pergunta.  Juquinha consultou o sabido e não ressabiado Google. E ele respondeu: “hoje é dezenove de abril, dia de santo Expedito. Mártir da fé. Que morreu decapitado em abril do ano 303, sob o comando do imperador Diocleciano, após recusar-se a renunciar ao Cristianismo”.

Juquinha, satisfeito com a consulta feita ao Google, continuou a fazer suas artes.

Ao redopiar o pião ele se enroscou na saia de sua avozinha no que ela caiu ao chão duro de pernas pro ar. Foi uma pândega de cal sobre elazinha a pobrezinha (pândega de cal?)

Podem me perguntar o que é isso e eu não sei responder. Creio que nem o tal Google saberia dizer.

Não satisfeito com essa traquinagem Juquinha seguiu em frente pois um passinho atrás atrasado vinha gente.

Vendo a velha estropiada ao chão o garoto fez mais uma sacacanage com sua avozinha tadinha.

De pernas pro ar a idosa, não vaidosa, ao pedir ajuda pra se levantar seu neto a ela ofereceu sua mãozinha suja com barro escorregadio. E foi mais um iscabum!  A nova queda fez mais barulho que fogos de artificio em festas de outro santo São João lá longe em Campina Grande na Paraíba mulher macho sim senhor.

Não bastante o garoto traquinas, ainda de mal com sua avozinha, nela mais uma peça pregou. Vendo-a sem venda nos olhos. De bunda pra lua. Sem anáguas ou soutiens, sem espartilhos ou combinação. Despiu-a literalmente na leiteira (mais uma frase sem pé nem cabeça).  E a pobre veinha, se não foi embora pra Pasárgada ela pega o buzão pra sair no trem das onze que sai da estação antes do meio dia. Isso se não houver atraso no fuso confuso do horário de verão.

“Vó! Que dia é esse”?

Dessa vez foi a veia que respondeu: “hoje é seu dia meu netinho folgado. Dia de Santo Expedito. O mesmo santinho que emprestou seu nomezinho ao segundo seu”.

Já eu, cujo nome que me foi dado na pia batismal é: Paulo Expedito Rodarte de Abreu.

Embora já não mais seja um garoto traquinas. Ainda faço as minhas molecagens.

Entre elas estas crônicas zombeteiras. As quais, se não fazem chorar pelo menos riem.

Não riam de minzinho. Tadinho de mim. E, como digo, se tiverem vontade de rirem de minha pessoa sorriam pra mim. Sentir-me-ei mais envaidecido. E mais grato.

Hoje é o dia do santo que deu nome a outro santo. Esse outro sou eu mesminho.

Paulo Expedito Rodarte de Abreu, o Paulinho da dona Rute e do meu paizinho Paulo José de Abreu.

 

 

 

 

 

 

 

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