O homem que vivia entre quatro paredes

Neste momento presente viver cercado de uma multidão não dá no mesmo que estar rodeado de gente amiga.

“Enquanto eu souber quem sou o julgamento dos outros não me interessa”.

E, mesmo que aquele amontoado de gente que me cerca passe por mim nem sequer imagino o juízo que fazem do meu eu. Se bom. Se pior. Se dizem de mim que eu exale mal odor ou perfume de gardênia da mesma forma me é indiferente. Sei que sou diferente diferentemente por pensar assim. Mas, que se lixem os descontentes. Que se explodam como um barril de pólvora após receber um rojão em festas de São João ou símile.

Enquanto eu souber quem sou eu o juízo que outrem façam de mim. Gente! Pra mim mesmo sou não apenas indiferente assim como não dou ouvidos a outrem. Tapo meus aparelhos escutadores com um tampão não temperamental. Já que essa tampa pode ser retirada no momento em que palavras doces peçam licença para entrar pelos meus ouvidos escutadores aquilo que aos dois interessem. Somentemente.

Confesso. Embora não tenha entrado num quartinho escuro de uma igreja qualquer. Comodozino esse chamado de confessionário. Há longos janeiros que se metamorfosearam em fevereiros, marços e outros abris. Já que estamos em quase finado abril. Confessar-me-ia nas missas das dez daquelas manhãs perdidas há anos longos sem me alongar muito foi no ano de mil novecentos e cinquenta e seis e mais. E dizia ao pároco em confissão: “padre. Pequei uma vezinha apenas por olhar o lindo traseiro daquela meninazinha de cabelos aloirados. Que aos meus olhos inquiridores era mais linda que um ipê florido tanto de flores amarelas, roxas, brancas as mais lindas que meus olhos já viram. E, se por acaso de um descaso vier a viver entre quatro paredes por favor me livre de tal destino. Pois amo a liberdade de ir e voltar. De incorrer no senão, me arrepender e pedir desculpas não tanto depois. De poder dizer não ao revés de um retumbante sim. De afagar ou consolar aqueles que precisam tanto de afagos como de carinho. De ver a cara alegrar-se de um velhinho prestes a ser sepulto ter a vida de volta ao receber alta de um hospital”.

Já no dia de ontem. Dezenove de abril. Dia esse dedicado a Santo Expedito. Cujo meu segundo nome dele herdei. Do outro lado da linha. Conversando pelo meu celular ao dele.

Percebi, pela voz embargada de uma certa melancolia. No meu entender essa palavra tem como sinonímia também tristeza. Durante a conversa com aquele amigo.

Um homem bom. Acostumado as duras lidas no campo. Embora ele já tenha tido a experiência em trabalhar em grandes cidades. De viver cercado de pessoas que a ele não diziam respeito muito menos o respeitam.

Seu nome já foi ventilado em outras crônicas diversas vezes tantas,

Eu o chamo de Tom Zé. Um modo meu peculiar de abreviar Antônio José Pedroso.

Ele, nos dias atuais cuida do meu pedaço de paraíso se é que ele exista aqui ou do outro lado da vida.

Tom Zé vive na própria companhia de sua pessoinha desprovida de maldade.

Um tanto exagerado da mesma maneira que se trata de um sujeito pelo qual ponho minha mão na fogueira sem medo de me sapecar.

Ele mora numa casa cuja pedra fundamental foi soterrada há mais de duzentos anos. Ela já pertenceu ao sua bisavô ou tatara. Há pouco tempo ali morava seu amado pai.

Eu já confessei não ser fácil viver entre quatro paredes atirando em direção delas palavras sem eco. Já que carecemos de interlocutores para nos entendermos. Apesar de em nossas prosas muitas vezes não somos compreendidos como desejávamos. E terminamos falando jogando palavras ao vento.

Falar com as paredes. Ao meu entendimento. Dá no mesmo que atirar pedrinhas na superfície de um lago e vê-las ricochetearem em seus pulinhos até irem ao fundo.

Não é fácil viver na solidão e não poder escutar a azáfama de crianças folgarem num parquinho qualquer.

Não concebo morar num eterno isolamento. Sem ao menos ver vacas pastejando. Pássaros avoando. Urubus planando alto aproveitando as correntes de ar. Sem ao menos poder contemplar a placidez de uma mãe acarinhando a cria. O indizível bucolismo apetitoso de canarinhos da terra ciscando o esterco do curral nas tardes indolentes da roça que tanto amo.

Já meu amigo Tom Zé. Na conversa amistosa e ao mesmo tempo triste que com ele troquei na tarde de ontem. Quando ouvi de sua boca a frase: “patrão. Meu amigo. Confesso-me desconsolado e desiludo por ter de viver falando às paredes. Quase um monólogo quando apenas eu falo e não sei se elas me ouvem. Não sei se pra você passa o mesmo”.

Agora, nesse dia ensolarado. Tenho de abaixar as folhas das minhas persianas para que o sol não adentre a minha sala e me turve a visão. De repente me deu vontade de falar às paredes. Não sei se elas irão ouvir as minha palavras e delas reverberarão eco.

Viver tão somentemente entre quatro paredes e não poder ouvir delas as respostas as minhas angústias é como amar e não ser correspondido. Infelizmente mente sim.

 

 

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