At

Sempre tive imensa e incontestável admiração pela profissão de enfermeiros.

Sejam eles ou elas técnicos ou de graduação mais elevada. Sejam eles ou elas ditos enfermeiros padrões. Ou simplesmente como aprecio a palavra enfermagem.

Pois são eles que botam mão na massa semi morta ou em recuperação no leito dos hospitais. São eles que cuidam de suas feridas pútridas, de onde, por vezes exalam mau odor. Trocam os curativos das feridas cirúrgicas feitas pelos cirurgiões. No meu caso se desdobram em cuidar para que a sonda passada numa operação de próstata não entupa. E quantas vezes, assim acontece independente de seus cuidados e temos de voltar à enfermaria onde elas nos olham de olhos assustadiços a bronca que nunca a elas é dirigida e sim a nós mesmos operadores. E passam a noite inteira em claro, apesar do negrume das noites escuras. Indo de leito ao leito. Ministrando fármacos. Puncionando veias entupidas naqueles antebraços edemaciados roxos de tanto sangue extravasado.

São elas ou eles, sem as suas presenças essenciais, não haveria sucesso ou insucesso nos tratamentos. E são elas mesmas os arautos dos óbitos quando eles infelizmente acontecem. São os anjos da guarda dos enfermos. Sejam eles jogados ao leito de nosocômios ou em suas próprias residências assumindo o papel notável de cuidadoras. São nossos braços direitos na difícil arte de tentar preservar a saúde quando ela se afasta de nós.

Entre tantos que comigo conviveram e ainda convivem merecem citações: a eterna Maria do Vaz Monteiro. Ainda operosa e não aposentada apesar da idade que lhe faculta tal graça. A Lúcia Gorete irmã do doutor Bira da ortopedia da Santa Casa. Que nos dias de hoje parece que mora no LTC.  Isso sem deixar de lado o Dedé, que mais parece um armário de portas abertas que, num belo dia de sol me salvou da morte certa nas águas límpidas da represa de Camargos. Quando minha moto aquática virou ao sabor das marolas que naquela tarde quase morta estavam fortes ao exagero. Meu eterno auxiliar nas operações quando ambos tirávamos enormes pedras nos rins ou sacávamos próstatas enormemente hipertrofiadas. Todos eles, não poderia deixar sem nomear a Janice e sua irmã que sempre se queixava de dores na coluna. O prestimoso Zé Maria da meio doida Fernandina. A Maria do Carmo da esterilização. E outras notáveis enfermeiras que ocupariam tanto espaço neste texto que não iriam deixar espaço para comentar sobre esta mocinha sempre metida numa calça justa. Dona de um sorriso que nos faz retribuir com outro sorriso igual.

Ela é a segunda. Que perdoe minha pequena jornalista que a nomeia de primeira mãe dos meus dois netinhos Theo e Dom.

Foi ela que os viu nascer. Que trocou as suas primeiras fraldas lambrecadas de caca de criança.

A At, nome de batismo dado a ela tanto pelo Theo e Dom.

Embora seu nome seja Patrícia ou Pat.

Por suas mãos zelosas já passaram mais da metade dos recém natos da minha cidade de Lavras.

Na Santa Casa, onde sempre militou com maestria de um maestro afinado com sua orquestra de choros dos internados na pediatria a At sempre deu provas suficientes para ser tida como pediatra experiente pelas lidas constantes.

É a ela que sempre pergunto: “At, o que fazer quando o cocô do menino ou da menina não sai. E se sai o faz em pelotas duras como a cabeça de suas mães teimosas que relutam em dar um laxante para amolecer as fezes? Pat. E aquela dor de barriga que faz os pais enlouquecerem de tanto perderem o sono? E sobre aquela manchinha mais parecida a um sarampo ou catapora. Seria uma singela alergia que faz o nenê coçar tanto a bundinha? At. Por que meu menino chora tanto? Não seria manha? Ou falta de algumas palmadas na sua bundinha rosada? E mais uma vez minha cara pediatra. Sem a titulação devida, mas bem sei que você sabe muito mais que dezenas ou centenas de médicos pediatras. Que confundem fimose com hipospádia ou epispádia. Que são malformações uretrais distintas e de maior gravidade que uma simples fimose. E Pat. Por favor, passa uma semana inteira com minhas duas crianças. Pois eu e meu marido precisamos ir ao Rio de Janeiro a fim de passar o carnaval que se avizinha e não podemos levar as crianças para aproveitarmos a folia no sambódromo. E pagamos, para usufruirmos o conforto de um camarote, a bagatela de mais de cinquenta mil reais.”

E a At, que seja Pat. Ou até mesmo Patrícia, prima da Zaninha, minha técnica secretária, eficiente como ela. A Pat casada com o Broa. Gente boa. Mãe do Greguinho que come mais do que eu sozinho. E tem uma filhota linda estudando medicina em Buenos Aires.

A ela e suas colegas tiro não apenas o chapéu, o gorro ou a máscara cirúrgica quando em operações.

Como diz o Theo e o Dom: “At, estou apertado para fazer xixi. Pat, me leve correndo ao a banheiro pois quero fazer cocô. At, venha me limpar. Pat. Por favor, a vã vai chegar logo. Arruma a minha merendeira. Não se esqueça do suco de caju e nem da bolachinha de araruta”.

E a At, ou a Pat, ou até mesmo Patrícia, pau pra toda a obra, está prestes a concluir a sua obra no bairro Vila Rica. Onde a levei ontem a noite. A sua casinha simplesinha ainda por acabar.

 

 

 

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