Não crie expectativas

Seja você mesmo não o que os demais querem que você seja.

Autenticidade rima com lealdade. Veracidade dá no mesmo que, mesmo que digam o contrário, em você dizer o que pensa. Mesmo ferindo susceptibilidades.

Não crie expectativas. Evite cercar-se de pessoas negativas ou tóxicas. Não permita que a fumaça que exala dos cigarros de quem fuma torne a você um fumante sem desejo de fumar.

Ande com a roupa que lhe cai bem. Mesmo que seja uma bermuda rota no joelho parecendo que ao pular uma cerca de arame farpado você, desajeitadamente, acabou rasgando a sua bermuda novinha abaixo da cintura. Podem até dizer que está na moda.

Mas a tal moda pra você deve cheirar a démodé. O que se usava dantes acaba voltando aos tempos de agora. Os farrapos de outrora podem ser tidos como a última palavra em bom gosto embora seja um verdadeiro mal gosto.

Procure se rodear de gente que sorri sem motivo aparente. E não pense que parentes chegados são os melhores amigos que você tem ou teve em vida.

Confie na lealdade dos cães. Eles sim. Embora não falem contigo pelo abanar de seus rabinhos é o melhor indicativo que eles gostam muito de você.

E se eles vierem a te morder não leve a mal. Por certo seria você que os tratou mal. Ofendeu-lhes a dignidade e a respeitabilidade desses seres de olhinhos inocentes que, mesmo nas adversidades, na pobreza ou na riqueza, ou até que a morte os separe, eles jamais irão deixar vazio o lugar ao sopé do túmulo onde um dia será sepultado.

Jamais crie expectativas vãs de que quem irá lhe ajudar nos momentos ruins ou piores vai ser algum aparentado em primeiro ou longínquo degrau. Filhos, netos, bis, assim que seus olhos fecharem não pense que serão eles que irão consolar a quem quer que seja ou até mesmo desconfie que aquelas lágrimas derramadas terão a mesma verdade de um abraço de um cão amigo. Mesmo um reles vira-latas sem pedigree que porventura tenha sido encontrado na rua prestes a ser devorado pelos urubus.

Ontem passei um dia inteiro e uma noite pela metade no meu paraíso. Se pudesse ficar mais por certo teria pernoitado de novo.

Fomos apenas minha Rosa e eu. Tom Zé, meu caseiro, logo quando suas tarefas rotineiras terminaram escafedeu-se.

E como gostaria de me fazer acompanhar de parte de minha familia. Não tão numerosa quanto desejaria. Não foi por falta de convite.

De véspera comprei as melhores carnes para um churrasco. Levei as melhores cervejas que conhecia. Mas fomos sós. Minha Rosa e eu.

Ah! Quase ia me esquecendo do Clo e do Robson. Meus fiéis escudeiros que vivem lá.

O Clo é minha sombra. Onde eu vou ele vai ao meu lado. Se paro ele para. Se volto a caminhar ele o faz enrodilhando-se nas minhas pernas. Já o irrequieto Robson não tem parança. Ele ora corre atrás de vacas ou late feroz correndo atrás de meus cavalos sob o risco de levar um coice bem dado no seu focinho xereta.

Eu criei expectativas de que algum dos meus dois filhos ou netos me acompanhassem.

Ledo engano. Aos meus queridos netinhos eu a eles perdoo. Eles não sabem e não podem dirigir pois falta-lhes idade para serem habilitados.

E vivo criando expectativas vida afora e presente adentro. Já no futuro não faço o mesmo vaticínio pois ele a Deus pertence.

Antes, Natais passado, fazia expectativas de ganhar uma bola de capotão ainda nova. A que me foi presenteada foi uma de segunda mão toda remendada.

Confesso estar cansado de pensar em novos rumos para o meu porvir. As expectativas foram mudando. Eu mudando junto a elas.

Até me transformar num idoso descrente de tudo e de todos.

Cansei-me de ter expectativas expectantes.

Daí a minha desilusão com o mundo que me rodeia.

 

 

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