Bons tempos em que gado era apenas uma imensa boiada

Antes, por gado entendia-se o conjunto de animais que foram domesticados pelo homem para aumentar a sua produção. Serviços agrícolas e domésticos. Para fins industriais ou comerciais. Sua criação tanto pode ser em sistema intensivo ou extensivo. Sejam vacas ou bois. Com o fim de serem enviados ao açougue. Ou aproveitados na produção leiteira. E, quando a rês, leia-se vaca, envelhece. Não lhe resta outra alternativa senão dela se descartar. Se magra o açougue não paga quase nada pela carcaça. Se obesa e velhusca o abatedouro aproveita desde os chifres ao couro. Fazendo, seja da carne de vaca, ou de boi, a mesma serventia. Pois uma vez no prato o bife. Mal ou bem passado. Desconhece-se de quem se trata o animal. Já que todas as espécies têm o mesmo destino final. Qual seja o nosso intestino. Sob a forma de dejetos de odor ruim. Embora a caca de vaca não cheire tão mal assim.

Já disse noutro livro de crônicas. Nada melhor que ouvir o mugido de vaca e sentir o cheiro de curral. Mesmo que cheio de bostas curtidas. Chamadas de esterco.

E como amo a roça e seus humílimos habitantes. Eu, com minha língua tida como erudita. Se escrevo direito. Digitando com ambas as duas mãos. E, do outro lado o compadre Tião me responde com tanto impropério. Respondo a ele. Entre prosa e verso: “ cumiquevosmece vai memo”?

Ou, noutra quase igual linguagem, típica da fala mineirinha arrespondo de supetão: “pronde nois vai memo”?

E ele, o cumpade Tião, amante da sinhá Saracura. Cujas pernas são mais fininhas que as canelinhas da minha querida Zaninha. Logo arremedeia. De viva voz ou fanha como uma taturana cachorrinha: “se o sinhô quisé memo sabe abra a sua oreia oreiuda. Pra modis de escutar mio.”

Bons tempos aqueles quando gado se referia tanto a vacas chifrudas ou mochas. A bois confinados ou soltos no pasto. Prontinhos a irem ao matadouro. Ou até mesmo aquele gado branquinho. Da raça Nelore. Que atravessava o Pantanal em comitiva parando nas corruptelas à beira daquelas estradas poeirentas ou alagadas nos tempos de chuvarada raivosa.

Já hoje, quando se refere a gado a palavra usa outro sentido.

Estamos às vésperas do segundo turno das eleições. Ou se continua a voltar no Bolsonaro. Ou vence o pleito. Ou jogamos nosso voto precioso no lixo. Escolhendo o Sapo Barbudo. O qual fica mais feio dentro ou fora d’água. Quando dantes era apenas um girino.

Eu já decidi meu voto no primeiro turno. Podem me chamar de gado do lado do Bolsonaro. Não me avexarei por este motivo.

Mas. Se me xingarem de gado do lado errado aí sim mostrarei a todos a minha raiva incontida.

E como amo tocar boiada. Montado na minha égua chamada Felicidade ou noutra mais veinha. Cujo nome é Santa Rosa.

Amo tanto a mais jovenzinha quanto a de mais idade.

Neste presente momento as três descansam e esperam a monta no pequeno haras do amigo Edinho.

E, uma vez prenhas irei levá-las a minha rocinha. Desde que os carrapatinhos micuins deem, pra mim.  Ou, pra elas, o devido descanso.

É só dar um tempo para que as águas da chuva voltarem a rolar.

A palavra gado ainda me enseja vacas ou bois sendo levados pela vara de tocar gado.

Gente, que seja letrada ou desprovida de letras, que escolhem o partido da esquerda ou da direita. Pra mim não deveriam ser epitetadas de gado. E sim eleitores pensantes. Ou asnos ululantes.

Que, por infelicidade, ou inguinorãncia, tenham optado por despejar na urna. Não funerária.

O seu voto infeliz, e mal dado, no tal candidato. Que infelizmente já foi presidente. Anos atrás.

E deixou o nosso amado Brasil a ver navios num lago seco no meio do nada.

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