Orelha do livro

O que escrever numa orelha?

Melhor seria o que ela deveria escutar.

Orelhas são apetrechos usados, de cada lado, a não ser que lhe falte uma delas, por um motivo qualquer, para ouvir ou escutar.

Quando, do outro lado, o interlocutor não tem nada a nos acrescentar melhor deixar as orelhas surdas. Como uma porta. Segundo minha avozinha diria.

Geralmente nas orelhas de um livro se usa grafar algumas peculiaridades do currículo daquele atrevido, o qual chamam escritor.

A minha vida já foi passada a limpo. Sou transparente, nas minhas crônicas, tal e qual uma vidraça limpinha. Permito-me ver nas entranhas. Sou cristalino como um lago despoluído.

Nas minhas orelhas passadas, cada qual com alguns escritos, já fui descrito pelo meu filho mais velho como um ser hiperativo. Já minha filhota jornalista, que escreve versos como seu pai tenta escrever controvérsias, um dia me disse ser um homem muito a frente do seu tempo.

Orelhas são feitas para ouvir. Não impropérios impróprios. Nem ao menos coisas e loisas que não nos dizem respeito.

Podem ser abanas. Tais e quais as do elefantinho Dumbo. Ou até mesmo ausentes. Neste mundo controverso, onde versos se tornam adversos, dada à precariedade das lengas lengas que não têm fim nem começo.

As minhas orelhas não têm preço. Cobro o que quero e rejeito ofertas em contrário.

E, se não apreciarem as minhas orelhas orelhudas, procurem outra latrina para despejarem o conteúdo fétido dos seus dejetos.

Orelhas, páginas que se dobram como os sinos repicam, são via de sempre gemelares. Comece a ler na orelha primeira. Depois passe, ao final de leitura, deste livro que se intitula “Leia com meus olhos”, a dobra da orelha seguinte.

E, por favor, não assoprem nas minhas orelhas palavras de baixo calão.

Se não gostarem do livro em questão, não irei devolver os sessenta reais que porventura tenham pago pela minha linda literatura.

Ponto final. Sem vírgulas ou reticências.

 

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