” Paulo. Você parou no tempo”

Um dia, depois de uma foto enviada, eu e uma mocinha linda, no esplendor de seus poucos anos, a quem foi enviada a mensagem, respondeu: “Paulo. Você parou no tempo”.

Na hora sofismei o que seria parar no tempo.

Seria o mesmo que ficar vivendo apenas o passado? Sem saber como enfrentar os percalços que lhe oferecem o presente? Ou, simplesmente, sofrer antecipadamente. Sofrer demais devido a imensa sensilidade que lhe cavouca as entranhas. Ou tentar ignorar o que lhe reserva o futuro. Sem saber o porvir. E não dar a mão à cigana, aquela fulaninha que ao invés de esmolar nas esquinas tenta ler  o que vai escrito nas linhas de suas mãos.

Um dia assim aconteceu comigo. Subia a rua. Em direção aonde morava. Fazia um calor dos infernos. Nem o capeta dava conta de ficar ao sol do meio dia.

Naquela esquina, pertinho de um colégio onde de vez em quando parava, na intenção de falar aos jovens, que todos nós podemos ajuntar dentro de cada um múltiplas personalidades.

Pedia à mestra, a qual lecionava a disciplina de português, depois de me apresentar, humilimamente, que me desse a oportunidade de falar aos seus alunos.

Ela aceitou a minha oferta.

A turma de jovens, sem saber quem eu era, depois de curta apresentação, ouviu silenciosamente uma crônica recente lida pelo autor. Foi uma leitura emocionada. Já que não tinha o costume de falar em plateias, mesmo de pequeno porte como aquela.

No final da minha curta alocução deixei como presente à biblioteca daquela casa do saber, o último exemplar da minha lavra.

Voltando à cigana, que pediu para ler o meu futuro, à custa de uns trocados, depois de alguma insistência, já que tinha pressa, deixei que ela adivinhasse o que estava escrito nas linhas tortas das minhas mãos.

E ela prognosticou esta previsão: “doutor. O senhor vai viver muitos anos ainda. A morte nem sabe a hora de lhe buscar. E, vejo ainda, nas linhas das suas mãos, que o senhor vai ter um encontro inesperado. Uma linda rapariga vai ao seu encontro. Quem sabe na esquina de cima. Mais perto do que o senhor espera. E como ela é linda. Garbosa, literalmente formosa”.

De repente, não mais que num repente, preocupado com o que me reservava o futuro, pra mim incerto, dei um tropeção, quase caí de joelhos. Aquele topão quase me fez vomitar. Foi numa senhora extremante obesa na qual me topei. Não sei como não fraturei nenhum ossinho do meu calcanhar.

Desde então, quando alguém pede pra adivinhar meu futuro, me benzo, me excomungo, peço penitência em oração.

E sigo adiante evitando novos tropeções.

Voltando às vacas frias, hoje esquentou, quando aquela senhora, ainda linda, apesar da idade, quase igual a minha, me provocou, dizendo que eu estava parado no tempo, voltei ao passado.

Vi-me menino. De calças curtas e ideias longas. Correndo atrás das pipas. Soltando flatus envergonhado. Tentando pegar meninas. Não sei se a minha convivência com elas me tenha feito seguir a carreira de médico. Pois brincávamos de médico sem a menor malícia.

Quando aquela linda senhora respondeu, após a minha fotografia enviava por whatsup, que eu havia parado no tempo, pensei, cá comigo: “que tempo é esse? Não sou tão velho assim”.

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