Eterna procura

Hoje, janeiro passando da metade, uma densa cerração tapava o brilho do sol.

Agorinha mesmo, seis e trinta e oito da manhã, uma nesga de luminosidade se mostra do lado de fora da minha janela.

Parece que no decorrer do dia a azulice do céu vai mostrar a sua beleza maior.

Tenho por mim verdadeira adoração pelos dias claros. O cinza me incomoda. Sempre, ao acordar, destampo a boca da minha janela na intenção de ver a cor do dia.

Talvez, devido à intensa sensibilidade que me consome, minhalma se acinzenta, quando não vejo o clarume do sol, o azul que se manifesta em intensidade plena.

Tenho sempre comigo, desde tenra idade, uma vontade irrefreável de buscar sempre.

Antes, menino ainda, procurava aquele presente deixado debaixo daquela arvorezinha de Natal, ou qualquer presente por ele oferecido.  Não importava qual seria. Desde que fosse embrulhado em caixinhas coloridas. Com um laço de fita vermelha a adornar aquele regalo. Ainda cria num bom velhinho. De barbas brancas. Vindo de longe. Naquele trenó puxado por renas aladas.

De repente, com o passar dos anos, acabei desacreditando no Papai Noel. Talvez a minha descrença tenha sido baseada na dificuldade daquele corpo roliço entrar por uma chaminé estreita. E de lá sair sem estar chamuscado em cinzas. Já que chaminés via de sempre são o caminho por onde sai a fumaça exalada por achas de lenha. Em dias frios, no correr do inverno.

A minha busca não parou por aí.

Uma vez jovem, a procura do que seria de mim, passei a procurar qual profissão elegeria.

As dúvidas foram sanadas depois que passei a entender que a saúde é um bem maior.

Não apenas a minha. Como a dos meus semelhantes.

Com o passar dos anos a procura ainda não teve fim. Uma vez feito médico precisava escolher qual especialidade abraçar.  Dentre tantas que existem.

Foi o deslocamento de uma pedrinha caprichosa que não era expelida pelas vias urinárias que me fez decidir pela urologia. E como doeu a danadinha. Esperei um ano inteiro. Foi preciso da ajuda de um colega de farda para que a mesma fosse despejada do meu interior.

Uma vez feito especialista outra procura me fez pensar pra onde ir. Esta busca me indicou que seria nesta cidade de onde só gostaria de deixar no dia do meu passamento. E como amo a minha Lavras. De coração inteiro. De alma lavada. Apaixonadamente a ela me declaro.

Tenho procurado cada vez mais. Não me sinto a vontade estacionado onde estou.

Tenho ganas de ganhar mais espaço na literatura. Quem sabe esta procura não termine nunca. Pois escrever é o que me motiva mais e mais.

Procuro sempre. Não me contento em ficar olhando os passos lentos do tempo.

Busco cada vez mais estreitar laços de amizade. Fazer amigos é a busca que continuo a procurar.

Leitores, então, não me canso de buscar. Afeto, reconhecimento, são desejos profundamente arraigados dentro do meu eu. Inconformismo com a situação vigente, com a miséria que mais e mais me atormenta, com esta pandemia sem hora de terminar, com a crise que assola este nosso pais, procuro quando tudo isso vai ter seu desfecho.

Vivo em eterna procura. Talvez me aquiete em não mais procurar só quando meu fim tiver seu epílogo.

E como espero viver muitos anos mais esta procura ainda se mostra longe de terminar.

 

 

 

 

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