Hoje amanheci de bem com a vida

Nem sempre o sol brilha ao raiar do dia.

Por vezes vem a tempestade.

Esta alternância entre a tristeza e a felicidade acontece sempre na vida da gente.

Na maior parte das vezes sobrevêm os bons momentos. Noutros imperam os descontentamentos.

Assim caminha a humanidade. Alguns são reféns de uma angústia profunda. Já outros via de sempre exibem na face aquele sorriso mesmo sem motivo aparente.

E como tem sido difícil encarar a vida nestes tempos tempestuosos.

A crise lambe tudo com sua língua ferina. Faltam empregos. O salário, para aqueles que ainda percebem, anda curtinho como cauda de camaleão recém perdida.

A falta de perspectivas de crescimento não há quem a ignore. Filas de desesperados se formam a porta de bancos a espera das benesses do governo.

Famílias inteiras sofrem à falta de renda. Os preços dos produtos básicos sobem à estratosfera. Em contrapartida aos ganhos cada vez mais minguados.

Por sorte parece que a pandemia está sob controle. Outras enfermidades continuam sua saga. Até parecia que elas perderam a vez.

Hoje, depois de uma noite chuvosa amanheceu um dia com ares de que o sol voltaria a brilhar. Algumas nuvens persistem. O azul do céu aparece timidamente. O horizonte indica que pode chover ao cair da tarde.

E como a chuva tem sido bem vinda nos ares da roça. Pezinhos de milho começam a brotar.

A pastaria, antes ressequida, veste-se de um verdume impar. O gado agradece. As jabuticabeiras se enchem de flores. Logo logo as jabuticabas amadurecem.  E os meninos sapecas sobem nos galhos finos, disputando as maduras com os marimbondos e abelhas, que pensam que os frutos são de domínio exclusivos seus.

Hoje acordei de bem com a vida depois de uma noite bem dormida. Não tenho do que me queixar.

Se não ganho a contento basta-me pensar que outros são menos beneficiados. Se não tenho a renda que gostaria penso naquelas casas onde falta de tudo. E me apraz viver com aquilo que conquistei em tempos melhores.

Hoje amanheceu um dia risonho. Fresco, sem o calor sufocante do sol, afável como a mão de minha mãezinha quando a tinha ao meu lado.

Acordei pensando no que ira fazer no decorrer do dia. Como se eu não soubesse o que me esperaria.

Contento-me com o pouco que conquistei. Faltam-me velhos amigos. Ai que saudades eles me deixaram.

Nestes dias de outubro, quase ao final do mês, tenho feito tudo que gostaria.  Caminho sempre. Escrevo nas manhãs aqui na minha oficina de trabalho. Acordo sempre com a disposição costumeira. Crio coragem para lançar outro livro. Espero pacienciosamente até esse dia.

Hoje, e sempre, acordo em paz comigo mesmo. As ambições as tenho guardadas. A sofreguidão não mais me consome. Sinto-me a vontade entre meus netinhos. De vez em quando os tenho entre os braços.

Nada me falta. Tenho a chuva por testemunha. O sol que sempre me ilumina. A felicidade que de vez em quando me foge.

Assim continuo vivendo. Até o dia em que me chamarem ao longe.

Hoje acordei de bem com a vida. Espero continuar assim. Esparramando letras nestas crônicas que mostram um cadinho de mim.

 

 

 

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