“Quer saber doutor? Tá de pé até agora”

Essa tal de impotência, ou disfunção erétil, como preferirem, atormenta a vida de muita gente, principalmente quando de mais idade.

Existem muitos tratamentos para minorar o sofrimento. Tudo depende da causa e do momento.

Doenças podem ser intervenientes na causa deste problema. Da mesma maneira fármacos podem contribuir, da mesma forma, para não se conseguir uma relação sexual prazerosa.

A ereção é explicada pelo enchimento dos corpos cavernosos que existem dentro do pênis. Um artefato de dupla função. Tanto serve para urinar como para copular.

Acontece, quando a diabetes se instala, prejudica-se a circulação. E os corpos não se enchem adequadamente. E a ladainha se repete. Dia após dia. Naquele momento precioso, único, quando o amor chega ao êxtase. Um dentro do outro. Num orgasmo onírico.

Da mesma maneira outras patologias são responsáveis por não se conseguir uma ereção plena. As de cunho emocional são mais prevalentes nos jovens. As causas orgânicas são comuns entre os de maior idade.

Um dia destes, creio que há um mês atrás, estava quase saindo do consultório quando aqui chegou uma consulta de última hora.

Era um velhinho simpático. Vindo da roça. Ele, de nome Benedito, contava com quase oitenta anos. No entanto não pareciam tantos.

Do lado de fora da sala escutei aquela vozinha fanha: “aqui trabalha o doutor Paulo Rodarte? Ele é meu amigo. E divide os pastos com a minha rocinha encantada”.

Minha parceira de oficio explicou-lhe que o médico estava de saída. Que voltasse outro dia. Que precisava marcar a consulta previamente.

Mas ele, com aquela serenidade cabocla, fez ver a ela que morava longe. Que havia pegado o ônibus das dez e meia. E que não poderia voltar outro dia. Pois esta doença o atazanava.

Seu Benedito havia enviuvado há coisa de dois anos atrás. Passou um mal bocado isolado naquele rincão perdido aonde quem chega por certo errou de caminho.

De repente bateu-lhe à porta um “capim novo”. Era uma rapariga de encher os olhos. Curvas perigosas. Olhar de quem tudo quer e consegue. Traseiro feito à compasso. Pernas pra ninguém botar defeito.

Elazinha pediu-lhe abrigo. Não tinha onde morar. Era solteira ainda. Prontinha pra se casar.

Doroteia, seu nome de batismo, foi logo entrando na casa. Fez um café no ponto. Uma broa de milho que nunca se viu igual. Era além de prendada e formosa. Cativante como o orvalho da manhã.

A vida do Seu Benedito mudou da água para a cachaça. Quem o conhecia nunca imaginaria o quanto uma mulher faz falta.

A partir de então um pequeno senão o incomodava. A danada era fogosa como uma égua no cio. E o pobre Seu Benedito não dava conta do recado. Ele não era de negar fogo. Mas com aquele pitelzinho não havia pinto que alçasse voo.

Durante a consulta, aceita sem pestanejar, já que ele era meu amigo, ao exame nada constatei de equivocado. Ele não era diabético. Muito menos sofria de pressão alta. Era rígido como pau de sebo. Saudável como gabiruzinho novo.

Depois de examinar-lhe a próstata acabei prescrevendo-lhe aquele remedinho azulado. Era a última palavra para o tratamento da disfunção erétil. Um fármaco milagroso. Que não apenas promete como cumpre a obrigação.

No sábado seguinte, quando fui à roça, encontrei o amigo Benedito rindo de orelha a orelha. E olha que ele tinha orelhas de abano.

Perguntei as quantas andava o seu namoro. Se tudo corria bem. Se conseguia satisfazer a Doroteia.

Já ele, com aquela expressão de alegria, respondeu-me sutilmente: “Quer saber doutor? Tá de pé até agora”.

Não quis entrar em detalhes para evitar malversação.

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