Uma lacuna impreenchível

Vazios existem na vida da gente que nunca mais se preenchem.

Perdas, danos, desenganos, senões que a gente comete, e toda a sorte de contrariedades que a vida nos traz, ficam como marcas indeléveis na lembrança da gente, como se fossem tatuagens grafadas a ferro e fogo em nossos corações de rica sensibilidade.

A vida nos presenteia com coisas boas. Quando nascemos, e olhamos, com aqueles olhinhos inocentes, o rosto de nossa mãe, é como se fosse um presente inolvidável. A seguir vem o despontar dos anos.

A primeira professora é outra agradável lembrança que o futuro não nos permite esquecer. Ainda me lembro da minha. E como ela foi importante na minha formação profissional.

Ela deixou uma lacuna imensa no dia em que ela partiu. Dona Beliza, até hoje, imagino que ela dá aulas no céu.

Outras lacunas as considero impreenchíveis. A primeira namorada não foi esquecida. Elazinha permanece intimamente ligada aos meus melhores momentos.

Já a namorada, que se transformou em minha esposa, essa jamais deixará de ser lembrada. Ai de mim não fosse por ela. Sem o seu desvelo. Sem o seu carinho. Pobre de mim.

Meus pais, que já partiram, são os responsáveis por outra lacuna que não vai ser preenchida nunca mais. A casa onde cresci, onde fui feliz e bem o sabia, agora dela só resta um amontoado de terra, um lote grande, que daqui se avista, é outra lacuna insubstituível nos meus mais de setenta anos.

Os amigos da Costa Pereira, aqueles meninos como um dia fui, são lacunas inseparáveis das minhas recordações mais ternas. Muitos deles já não existem mais neste plano chamado terra. Mas deixaram saudades imensas de quando éramos crianças. Naqueles tempos bons, que não voltam mais.

Algumas lacunas são imorredouras. As férias que passava na roça de umas tias avós, que saudade da tia Mariana e da tia Leonor, na fazendinha da Cachoeira, no município de Perdões, são tempos inolvidáveis. Pena que aquela rocinha já mudou de mãos.

São lapsos de tempo intimamente guardados dentro da gente. Que não são esquecidos jamais.

Pena que o tempo passa. A gente ultrapassa os anos. Crescemos. Tornamo-nos gente grande. Deixamos de ser crianças. Perdemos o melhor de nós – a doce inocência.

Aí, quando pensamos que ainda é tempo, partimos rumo ao firmamento. Deixamos a vida passar. Naquele ritmo frenético. Em busca de quê? Não sei ainda o porquê.

Pena que a maior parte das lacunas são impreenchíveis. Perdemos os pais. De repente filhos se vão antes de nós. É uma inversão de valores que até hoje não concebo.

Quando olho, daqui do alto, aquele lote vazio, e me lembro daquela casa, que foi feita escombros em poucos dias, atrevo-me a dizer que aquela lacuna pode se transformar um grande edifício. Mas nunca vai deixar de ser aquela mesma casa onde cresci. Onde fui feliz ao lado de meus saudosos pais.

 

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