O dia em que tudo terminar

O fim, na minha concepção, parece não ter fim.

O começo é previsível. Desde quando nascemos conta-se o inicio. De uma vida que se esvai pouco a pouco. Para terminar ao fim.

E como prever quando tudo vai terminar? Será que um dia a terra vai acabar? E todos nós, jovens, idosos, crianças ainda, partiremos rumo ao desconhecido. Outros mundos existirão? Além das estrelas? Algum planeta terá vida própria? Um mudo desconhecido onde a vida será possível? Esta resposta não a tenho pra dar. Espero que num futuro perto ela vai ser respondida. E nossos netos, bis, terão um lugar melhor pra viver. Já que este mundo está sendo paulatinamente destruído. Justamente por aqueles que deveriam preservar a terra. E, no entanto, a destroem sem perceber. Já que as florestas escasseiam cada vez mais. E a água se torna mais e mais exígua.

Já me perguntei quando será nosso fim. Não quando vai chegar a morte. E sim a vida neste planeta. Quando vai ser o começo do fim?

Por certo há de ser quando as águas minguarem. O verde esmaecer de vez. Os povos não mais poderão aqui habitar. As guerras, o ódio, as desavenças, o desamor, são causas que irão pôr fim aos nossos dias.

O dia em tudo ira terminar ainda não foi determinado. Deve tardar um bom bocado. E não estarei aqui pra ver.

Tenho um amigo, compadre velho, da roça, seu Tião da dona Joana, senhor provado em anos e desenganos, que um dia, quando por ele passei, estava uma seca de queimar pasto, e esturricar miolos, e acabei por parar um cadiquinho.

Era por volta da volta do meio dia. Fazia um calor dos infernos. E olha que estávamos em pleno inverno. Não chovia há meses. O secume do ar empestava-me as narinas. A poeira tintava de amarelo chumbo a estrada poeirenta. A relva seca era um prato cheio a queimadas.

Naquela nossa prosa amistosa, já que eu estava de volta pra cidade, comentei com o velho Tião sobre os tempos difíceis que estávamos atravessando.

Não chovia há quase um ano. A roça de milho se perdeu. A vacada emagreceu a costelas vistas. O preço do leite mal dava para as despesas.

O sol brilhava forte lá em cima. Era um calor de se abanar debaixo do ventilador.

Foi quando disse a ele que o fim do mundo se aproximava. Em poucos anos teríamos de nos mudar para outras plagas.

Seu Tião, com a sabedoria peculiar aos anciãos, com a paciência e tranquilidade que nele se aboletava, respondeu a minha questão com um simplório gesto de desdém de mãos.

“Ah!, que nada! Ouço esta prosa há muitos anos e janeiros. Todo ano é a mesma lereia. O mundo está deste jeito desde quando o conheço. Entra ano e se despede outro e nada muda. A gente sim. Muda de roupa sem precisão. Muda de mulher e depois descobre que levou manta. E acaba a grana e a nova mulher vai embora. Muda de estação e novamente retorna o verão. O fim do mundo? Quer saber quando? O mundo não vai terminar nunquinha. A gente sim, deve ceder lugar a outrem. Pois ninguém dura para sempre”.

Dali saí pensando melhor. O dia em que tudo terminar não estarei aqui para comprovar.

Melhor nem pensar…

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