Aquele foi seu último amanhecer

Que dias frios tem feito nos derradeiros dias.

Ao sair de casa a temperatura não tem sido nada camarada.

E o inverno ainda nem mostrou a cara. Parece que este ano vai ser de enregelar.

Aquele céu azul, o sol teima em não sair, parece que as nuvens encobrem a boca do sol e ao mesmo tempo não permitem o azul predominar. Quem sabe no decorrer do dia isso pode acontecer. O azul prevalecer, o amarelo se esbaldar.

Com este frio que amanhece melhor ficar na cama. Enrolado entre as cobertas, a espera de o sol nascer.

Mas não é isso que acontece a um amigo de longa data.

Expedito, trabalhador contumaz, mal espera o galo cantar.

Ele mora numa fazendinha enfiada nos cafundós de onde Judas perdeu as botas. Quem ali chega quase sempre errou o caminho. Perdeu-se num encruzilhada do destino. E, não fosse a orientação segura de algum morador por certo nunca mais voltaria de onde veio.

Expedito, naquela manhã de junho, com o frio a enregelar-lhe as orelhas, levantou-se antes das cinco horas. Naquela manhã cinzenta. Nada se via além da moita de bananeira.

Mesmo assim ele se levantou. Tossiu e espirrou logo ao ir ao banheiro. Percebeu uma febrinha leve a aumentar-lhe a temperatura. Uma falta de ar fê-lo abrir a janela.

Antes das cinco e meia já se pôs de pé. Tomou um cafezinho magro. Esquentado na trempe do fogão a lenha.

A contragosto saiu de casa. Carecia de ordenhar a vacada. No chiqueiro a porcada grunhia faminta.

Antes das onze já estava com as tarefas em dia. Não tinha fome. Embora passasse da hora do seu almoço.

Novamente foi a cama. De onde se levantou quando a noite deu as caras.

Dormiu até a madrugada. Fazia frio ainda.

Uma tosse renitente se repetiu. A febre se manifestou novamente.

Aquele dia cinzento foi seu derradeiro momento.

Assim que a noite chegou Expedito foi levado ao hospital.

Já entregue a esta doença que tem feito vítimas mundo inteiro.

Fui informado da gravidade do estado do amigo Expedito.

Na manhã seguinte ele foi sepultado.

Não tive como emprestar meus sentimentos à família enlutada.

Mais uma vítima desta virose maldita. Não sei até quando vamos assistir a esta calamidade imensa.

Este dia, dezessete do mês de junho, foi seu último amanhecer.

Até quando? Tomara seja em muito breve. Assim espero. Que eu esteja aqui para comprovar. Quando será que novamente o sol vai bilhar? A azulice do céu vai se tornar realidade?

Meu amigo Expedito se tornou mais uma estrelinha a brilhar numa noite escura. Entre tantos que já brilham por lá.

 

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