Há muito tempo não chovia. A seca predominava naquele sertão inamistoso.
No alto só se via a amarelice do sol. O azul do céu predominava.
Contando nos dedos, das duas mãos inteiras, poder-se-ia dizer que a chuva não caía desde o inverno passado. E lá se foram verões. Primaveras se despediram.
O pai de Joãozinho, aquele garotinho esperto, bom aluno, inteligente e aplicado, perdia o sono devido à seca que naquelas plagas imperava.
Aquela família de gente acostumada a toda a sorte de privações se preparava para o plantio.
E cadê a chuva? Nada de ela se anunciar no alto.
O fim do ano se aproximava. E que ano era aquele? Nada de bom acontecia. Só notícias ruins eram anunciadas pelos jornais. A pandemia ainda mostrava o ar de sua desgraça. A cada dia mais pessoas sucumbiam nos hospitais. A crise parecia não ter fim. Apenas começo.
Prestes a chegar o Natal a família de Joãozinho nem um pinheirinho se animou a empinar na sala de visitas. E o menino, esperançoso de dias melhores, dormia sonhando com a visita de Papai Noel.
Contabilizava quais presentes gostaria de ganhar. Um carrinho de rolimã. Uma bola novinha. Já que a sua fora perdida durante uma partida de futebol naquele campinho cambeta, nos fundos da casinha tosca, onde acostumava receber os amiguinhos, agora ausentes do seu abraço, devido a tal enfermidade que não tinha hora pra terminar.
Naquela manhã de uma segunda-feira cinzenta, de repente a chuva se anunciou.
As nuvens tintaram-se de cinza. O céu subitamente escureceu.
Parece que o tempo iria mudar. O que em verdade aconteceu.
Antes do meio dia a chuva despencou do alto. Trovões riscavam o céu escuro. Tudo fazia prever que a chuva enfim desceria a fertilizar a terra. Era tempo de plantar.
O pai de Joãozinho sorriu naquele dia final de novembro. Deus enfim atendeu as suas preces.
E a chuvarada continuou durante o mês inteiro. O sol escondeu-se entre as nuvens cinzentas.
Na roça o tempo encobriu-se de negro. O sol não mais deu as caras.
Passou um mês inteiro com água caindo do alto. O barro impedia qualquer pessoa de ali chegar.
Dezembro continuou a aguaceira. Nada de o sol voltar a sorrir novamente.
Quase dia de Natal, o final de ano se anunciando, Joãozinho, aquela criança espevitada, mal via a hora de o sol voltar a brilhar. E ele sonhava com um presentinho qualquer.
Quiçá aquela bola de futebol. Um caminhãozinho de bombeiro. Um carrinho de rolimã. Ou, qualquer coisa que fosse. Desde que a chuva não continuasse por muito tempo.
Afinal já era tempo de parar de chover.
Na véspera do dia de Natal Joãozinho perdeu o sono. Sonhou com um presente diferente.
Deixou de lado o carrinho de rolimã. Não mais queria o tal caminhãozinho de bombeiro.
Enfim chegou o dia vinte e quatro de dezembro.
Joãozinho deixou uma cartinha ao Papai Noel. Escrita de próprio punho.
Nela se podia ler: “meu querido Papai Noel. Não mais desejo ganhar um carrinho de rolimã. Nem ao menos uma bola de futebol. Quero sim, já que sou um bom menino, que o senhor, por favor, tape a boca do céu!”
De repente fez-se a luz. O sol voltou a brilhar. A partir daquele dia iluminado a chuva serenou. As nuvens cinzentas se foram. E o sorriso inundou a alma daquele garotinho. Um dia lindo se fez. Neste mês de dezembro que está prestes a começar.