Vivo na incerteza do futuro

Mas sempre cortejo o passado. Não ficando indiferente ao que diz o presente.

Mas nem de longe ouço o que diz o futuro. Pois ele é incerto. Não deve ser pesquisado.

Pois o que ele me diz deve ser guardado sete chaves.

Meu passado parte dele fica aqui pertinho.

Agora não o posso ver, pois reina uma escuridão dominante. Mal se vê além da minha janela.

O sol ainda não acordou. Por certo ele ainda espreguiça por debaixo de um lençol de nuvens. E a azulice do céu ainda não se mostra lá em cima.

Aquela rua, tantas vezes citada em textos recentes e mais antigos, ainda dormita a mão esquerda. Fora o velho hospital que não tem direito a fechar os olhos. Pois lá dentro mourejam incansáveis profissionais a serviço da saúde.

Meu passado hoje se resume a setenta e quatro anos. Foram anos bons aqueles. Não tenho do que me queixar.

Tive uma infância admirável. Recheada de brincadeiras ao lado dos meus pais. Amigos, companheiros de folguedos, colegas de escola fazem parte de minhas lembranças. Eles todos moram aqui dentro. Não os esqueço. Mesmo os que partiram rumo a um lugar desconhecido. No qual um dia iremos nos juntar. Espero encontrá-los com olhos rasos de saudade. A mesma que sinto agora. Nessa quase madrugada fria. Desse mês de julho quase em seu começo.

A vida adulta da mesma maneira foi muito produtiva. A profissão que elegi foi de muitos acertos e senões. Aprendi a errar menos com os erros praticados. Não tenho a intenção de continuar errando tanto. Já que nessa idade a experiência acumulada me ensinou que errar faz parte da natureza humana. Mas persistir no logro é sinal de burrice. E asnice não faz parte do que desejo pra mim e para os outros.

Nessa altura da minha vida tão vivida. Na distância percorrida pelas minhas pernas andarilhas. Acredito já ter dado uma volta inteira nesse planeta tão agredido e injustiçado.

Espero que, na minha despedida aqui da terra ela mesma nos agradeça por tê-la protegido de tantas agressões sofridas.

Tenho certeza que nessa minha caminhada terrena tenha feito mais o bem que o mal. Mas se alguém pensa o contrário me permita retroceder um cadinho mais.

Aos vinte e oito para aqui retornei. Casei-me e tive a felicidade de ter dois filhos. Que me presentearam com três netinhos. Aos quais pretendo deixar como legado um mundo melhor. Mas não depende apenas de mim. E outros devem contribuir.

Dando um pulo no tempo aqui estou aos mais de setenta. Cinquenta anos me olham desde que me graduei.

Tenho saudades sim dos verdes anos de minha vida.

Mas se pudesse voltar a eles seria por apenas alguns minutos. Já que o presente me satisfaz e nele desejo estar.

Tenho boas lembranças do passado. Mas nele não desejo morar. Pois o que passou se foi e não volta mais.

O presente o recebo como um presente dos céus. É nele que vivo e tento sobreviver até que o futuro permita.

Amo tudo aquilo que o passado me deu. O que seria de mim não fossem meus pais?

Mas, vivendo o momento presente. Não me desvencilhando do que ficou pra trás.

A incerteza do que está por vir pretendo continuar desconhecendo.

Tenho por mim que tudo que conquistei foi por obra não apenas minha.

Só tenho a agradecer  a mão generosa de Deus Pai.

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