Ele percebeu, cedo ainda, toda a crueldade do mundo

Engana-se quem pensa que ser cruel é privilégio de quando adulto.

As crianças também podem descobrir, em tenra idade, todo o sabor amaro da crueldade.

Bullying é uma manifestação inequívoca do que seja ser cruel. Já que esses atos de intimidação, podendo chegar à agressões repetitivas contra um individuo que não é aceito por um grupo. Melhor chamado grupelho. Pois se trata de pessoas de péssima índole. Que podem se tornar, no mais tardar na vida adulta, verdadeiros párias sociais.

Quem já não se deparou com uma criança, vinda da escola, depois de um dia inteiro de aula, ser despejada da vã, com seus olhinhos rasos d’água, sendo admoestada por seus coleguinhas. Quase cuspida daquela condução. Sendo advertida pelo motorista, dizendo, em palavras duras, que elazinha teve um comportamento inadequado. Sendo considerada pessoinha não grata. Embora tudo isso não passe de meras conjecturas que não espelham a verdade.

Foi exatamente isso que tem acontecido ao garotinho Tibúrcio. Cujo nome, mal escolhido por um parente omisso. Tem lhe ensejado comentários jocosos de todos aqueles que com ele tem convivido desde que elezinho foi matriculado numa escola pública de bom conceito.

Tiburcinho se acostumou a viver sozinho. Brinca com ele mesmo. Tem suas próprias manias. Pelo simples fato de ter nascido prematuramente, quase na noite de natal, apelidaram-no de Natalino.

Suas orelhas têm uma forma peculiar. São como as pás gigantes de um moinho de vento. Ditas abanas para os entendedores. Sua vozinha é fanha. Suas mãos miúdas mal dão conta de pegar o lanche que é distribuído a hora da merenda. Assenta-se quase sempre numa mesa solitária para tentar fugir dos comentários desairosos que sempre fazem de sua pessoinha diferente dos demais.

Tibúrcio, para compensar a falta de formosura, foi dotado de uma inteligência maiúscula.

Aprendeu a contar até mil aos três anos. A soletrar o alfabeto aos menos de quaro exatos.

Mas tudo isso não contribuiu para que fosse aceito pelos colegas. Ele sempre vive isolado na sala de aula.  Se tem amigos não sabe quais.

Uma vez, em visita aquele colégio. À procura do garoto Tiburcinho. Encontrei-o, de castigo, sendo punindo por ter cuspido num garoto que o tinha molestado. Ele jurou-me que não tinha culpa pelo acontecido. Foi mais uma vítima que propriamente agressor.

Aos dez anos os pais resolveram mudar Tiburcinho de escola. Naquela o bullying crescia a orelhas vistas. Era maltratados pelos colegas.  Quase sempre voltava a casa demonstrando sofrimento pelos maus tratos.

No entanto, na outra escola, o garoto continuava marginalizado. Era tido como uma aberração da natureza.

Assim continuava a sua provação no desenrolar dos anos. Embora dotado de inteligência acima da mediana na escola o bullying persistia. A crueldade das outras crianças acabaram fazendo do garoto Tibúrcio um desajustado. Evitado por todos.

A sua ojeriza pelo ambiente escolar só crescia.

Anos mais tarde.  Aos quinze anos. Aquele infeliz garoto. Vendo que não era aceito pelos demais. Que sempre vivia isolado. Aprendeu a usar armas.

Aprendeu a atirar. Abandonou a escola. Interrompeu os estudos.

Num trágico sábado. De uma manhã de inverno. Tiburcinho entrou naquela mesma escola onde sempre foi alijado do convívio dos colegas. Por ser tido diferente.

Foi uma carnificina. Mortos se amontoaram nas salas de aula. Nem o diretor escapou.

Tibúrcio, um garoto, fruto da crueldade do mundo, foi o causador dessa mortandade.

Como ele outros casos funestos acontecem mais e mais.

Até quando garotos, como ele, vão ser maltratados por essa sociedade consumista. Que não sabe separar o joio do trigo?

 

 

 

 

 

Deixe uma resposta