O que é envelhecer?

Não apenas acumular anos aos desenganos.

É viver a cada dia a espera do dia final.

Hoje, janeiro, marca dia oito. O ano começa e logo termina no final de dezembro.

Lá se foram doze meses. Se contarmos os dias é fácil – 365,25 dias. Mas as horas, ah! Não sei quantas foram.

Longos minutos se sucederam. Segundos uma infinidade deles.

Mas eu não conto horas aos meus dias. Simplesmente vivo. Tentando encontrar a tal felicidade. Embora ela, sorrateira, se esconda nos lugares mais imprevisíveis.

Envelhecer, no meu conceito, não é ser velho como um objeto abjeto jogado fora.

Enveredar pelo caminho dos anos é como nos desfazemos de peças gastas de nosso corpo alquebrado pela idade. Jogamos fora fios de cabelo. Perdemos o viço de nossa epiderme. Dentes frágeis são substituídos por outros feitos pelos protéticos. Uma dentadura nova dorme ao nosso lado num copo cheio d’água. Pouco a pouco perdemos nosso tirocínio. Mal nos lembramos do ocorrido no dia de ontem. Mas, fatos inerentes ao passado deles não olvidamos. Aquele sorriso desdentado sorri sem saber a razão. Acabamos trocando nossas pernas gastas por andadores e nos amuletamos. Nossos passos trôpegos um dia param. E uma cama nos espera para lá ficarmos até que a morte venha nos buscar.

Envelhecer é consequência inevitável desse ato que se chama viver. Dizem, ao que discordo veementemente, que a velhice tem suas vantagens. Somos contemplados com andar graciosamente nos coletivos. Mas quem diz que jovens cedem seus lugares a gente quando cansados, pernas fatigadas, a gente implora com nossos olhos sentidos, que, por favor, nos deixem esse acento a nós destinados. E eles desdenham de nós pensando serem eles o presente. Esquecidos que fomos nós, idosos, não velhos, que tentamos ensiná-los boas maneiras. Mas eles, jovens, não aprenderam.

Envelhecer não é padecer num paraíso imaginário. Já que esse mundo não foi feito para os de mais idade. As ruas não oferecem a segurança necessária para caminharmos. Gente de idade são os preferidos para os trombadinhas que afanam seus pertences. Obstáculos se interpõem em nosso caminho. Passeios esburacados. Faixas de pedestres que não são obedecidas. Coletivos que não param nos pontos certos. E outros percalços mais que aos mais vividos oferecem dificuldades quase intransponíveis.

Dizem que envelhecer é um privilégio a muitos negado. Certo em certo ponto.  Pois grande parte dos seres viventes não atinge a maior idade. E param antes de terem atingido a senilitude.  Mas, hão de concordar comigo num certo ponto. Pra que viver tanto se a saúde já não faz parte da gente? E outros se tornam indiferentes. Pois nossos olhos não reconhecem mais quem é quem.

Envelhecer é preciso. Mas viver além da falta de juízo não sei o porquê.

Sei que um dia envelhecemos. Perdemos o tato. O olfato. A visão claudica. Os passos tropeçam. A acurácia não identifica mais uma moça bonita de outra pudica. Nosso discernimento nos permite escolher entre uma coisa e uma loisa. Ambas se equivalem.

Envelhecer se torna necessário já que os anos passam. Os dias se sucedem. Ontem era dezembro. Agora já é janeiro. Ontem tinha setenta e três no dia de hoje setentaquatrei.

Quantos anos mais terei pela frente? Não sei.

O fato inconteste é que envelhecemos. Adicionamos anos aos nossos janeiros.  E logo fevereiro adentra. Para chegamos logo noutro dezembro.

Envelhecer é ceder lugar a outros mais jovens.

Pois, se continuarmos aqui indefinidamente o que será desse planeta em tempos futuros? Um mundo apinhado de gente. Uns sobre os outros. Uma pirâmide inescalavelmente perigosa.

Mas envelhecer com dignidade, sem me tornar um peso morto aos que me sucederem. É o que pretendo. De agora em diante.

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