Se eu pudesse falar com ele…

Quantas e quantas vezes, em sua presença, não manifestei meus sentimentos e me calei.

Não lhe disse o quanto o amava. O respeitava. Admirava a sua seriedade e competência no trato com as pessoas. A sua enorme dignidade.

Quando ele jovem, eu menino ainda, trajando aquele terno cinza, ao lado de minha mãe, me levava aos ombros. Acredito que aquela fotografia foi feita em Boa Esperança. Terra que Lamartine Babo imortalizou com sua linda canção que diz assim- “serra da Boa Esperança, esperança que encerra no coração do Brasil”.

Meu pai.

Como gostaria de lhe dizer- pai, viva mais um cadinho. Desfrute o resto de sua vida ao meu lado. Não morra tão prematuramente. Sempre assoberbado de trabalho. Dizendo pra mim- filho- não se aposente nunca. O ócio é o começo do fim.

De fato. Em verdade nunca o vi assentado a um banco da praça. Defronte aquele outro banco. Onde o senhor sempre deu o melhor de si.

Meu saudoso pai.

Ainda me lembro de quando fomos juntos a minha rocinha pertinho de aqui. O senhor, que amava pescar lambarizinhos em sua casa em outra represa mais distante. Onde agora meu irmão Fred fez de sua casa a dele de seus filhos queridos. Lá permanecia horas a fio. Dando banho na minhoca. Pescando solitário. Sem que eu o acompanhasse.

Meu querido pai agora ausente.

Noutra fotografia, exposta a minha mão direita, ele me entrega um certificado numa passada solenidade acontecida há anos atrás. Ele dignificou a profissão de advogado. Aposentado como gerente de uma casa bancária. Não satisfeito com o ócio enveredou-se pelo direito. E cumpriu a risca sua outra profissão até quando a saúde o permitiu.

Meu querido pai.

Ainda me recordo dos seus últimos dias. Já acamado. Vítima de pertinaz enfermidade fui eu quem lhe fechou os olhos. E como gostaria que eles permanecessem abertos um pouquinho mais para ver seu filho primogênito a escrever tantos livros. Penso ter herdado de ti a vocação pelas palavras. Pois bem me lembro de suas petições corretas escritas na velha máquina de escrever que hoje decora o quarto de cima na minha casa na roça onde tenho outro computador de tantos textos arquivados.

Meu pai.

Se eu pudesse ainda lhe dizer tantas coisas. Não ditas dantes.

Entre elas diria. Meu amado pai. Guardo a sua imagem aqui dentro. Ao cair das tardes passo pelo prédio pelo senhor construído. Onde meu avô Rodartino morava. Ao lado de minha avozinha Belica.

E com que esforço o senhor empreendeu mais essa obra. Entre muitas que me deixou como legado.

Meu querido pai.

Há anos não mais o tenho ao meu lado. Sua passagem ao outro lado da vida foi deveras anunciada.

Se não disse dantes digo agora.

Meu amado pai. Seu exemplo tento seguir. Conforme está gravado na lápide da sua sepultura. São palavras minhas: “exemplos ficam. Saudades se eternizam”.

São tantos ditos que gostaria de dizer sobre sua pessoa que uma crônica inteira não diria tudo.

Ao final desse dia. Quase natal.

Se pudesse escolher presentes por certo o melhor deles seria ter o senhor novamente ao meu lado.

 

 

 

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