Meu primeiro dia de pescador

Ontem e eu minha esposa, dia vinte e oito deste janeiro quente e chuvoso, completamos juntos quarenta e cinco anos de casamento.

Segundo diz esta data celebra-se bodas de rubi. Não é fácil chegar a essa idade de convivência entre quatro paredes mantendo-se fiéis a um ou outro.

Mesmo que de vez em sempre passarinhemos os olhos meio fechados na direção de uma garota que usa mini saia. Com aquele traseiro arrebitado feito a compasso por um arquiteto de traços curvilíneos. E a gente se arrisca a levar um tapa na cara. Que pode deixar pistas de nossa velhacaria. E, depois que a gente se desculpa fica tudo como era dantes no quartel de um tal de Abrantes o qual não conheci.

Afinal devo mais da metade da minha felicidade e bem estar a minha ainda amada Rosa. Por muitos reconhecida como Rosemirian. Estilista de mancheia ainda longe da aposentadoria. Pois, nenhures melhor que ela sabe metamorfosear aliás obesas em verdadeiras princesas. Pois um bom traje de festas nenhures melhor do que ele consegue esconder defeitos. Celulites deformadoras. Cinturas que dantes podia-se abraçá-las sem muito esforço. Bastaria passar um dos braços no entorno dela e nos sentiríamos no paraíso.

Na celebração de nossas bodas rubi não dei a ele nenhum regalo. Embora tenha como maior presente a dar a ela a minha pessoa culta. Semeadora de mais de vinte livros entre crônicas e romances. Só que ela um dia me afirmou, entre sorrisos de mofa e beijos na minha boca: “meu querido escritor Paulo Rodarte. Sei o real significado do seu sobrenome do meio. Rodarte quer dizer rodar com arte. Já que bem sei que você, meu amor, não tem pelos carros a mesma paixão que nutre por suas pernas possante. Cujas panturrilhas são mais duras que certos corações endurecidos pela vida. E seu combustível é arroz com feijão e uma bela picanha assada no espeto em brasa da churrasqueira. Uma delas que foi construída na nossa rocinha amada. A de cima nunca foi feita em brasa. Já a de baixo, no salão perto da piscina sempre nos importa que a acenda. Especialidade do Marcelo jubilado da química da Ufla. Emérito churrasqueiro e loroteiro e palpiteiro o mesmo que não consegue manter a boca fechada. E só a mantém com a língua presa sob olhares duros de sua amada Rose.

No dia de ontem, sábado de céu ameaçador, um dia e tarde chuviscosa. Partimos e deixamos a nossa Lavras entregue a ela mesma. E fomos desacompanhados ao nosso solar.

Chegando lá dei uma bela faxinada nas varandas avarandadas. Lavei o piso que ficou mais branco que bunda de nenê pós talquinho esparramado por sua mãezinha.

E, como tinha comprado um molinete novinho e toda a tralha de pesca antes montada pelo amigo Marcelo da dona Rose. Fui ao píer ainda molhado pelas chuvas que caíram durante a noite de ontem. E, para pagar promessa a minha querida Rosemirian me arrisquei numa pescaria. De caniço e samburá.

Fui todo esperançoso a fim de pegar ou um tucunaré ou até mesmo um belo Jaú. Me satisfazia com uma reles minhoquinha que por acaso pudesse ter mordiscado o anzol.

No primeiro lance do molinete novinho não consegui meu intento.

A linha se enroscou no primeiro enrosco. Acabei trazendo das águas barrentas da represa do Funil apenas galhos secos e molhados.

Acabei por lançar de novo. Mais uma enorme decepção.

Ao fim das tentativas malogradas. Depois de não pescar nadica de nada. Acabei a pescaria num belo enrosco da linha enfiada nos dois anzóis. E ambos agarrados à vara do meu molinete ainda a pagar na loja do André. Aquela cujo nome é Cantinho da Roça.

Meus dois cãozinhos latiam de vergonha do seu dono pescador de meia pataca.

Que voltou á cidade sem nenhum peixe pra contar a história mentirosa de pescador.

Perdoe-me minha esposa Rosa. Ontem, vinte e oito de janeiro foi nossa boda de rubi.

E você, minha verdadeira pedra preciosa merece não só um marido melhor ou um que a presenteie com belo regalo.

Já lhe prometi meu coração. Você já o tem. Peixes estou a dever. O que falta a dar a você?

Meu todo eu. Já que a minha metade você já a detém.

 

 

 

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