Talvez seja esse o caminho

Já tomei caminhos errados. Mas por eles me enveredei.

Retrocedi e retornei. Voltei por trilhas distintas. Se errei de novo não me arrependi.

Mesmo depois de tantos logros não perdi a direção. Por algumas vezes adentrei-me pela contramão. E um guarda camarada me fez ver que estava errado. E ele não me multou e apenas me recomendou que voltasse, de marcha a ré, e entrasse por aquela ruela. Aí, de senões e trapalhadas. Afinal consegui, não foi pela primeira ou segunda vez que tive sucesso em conseguir fazer uma baliza e o instrutor daquela auto escola me premiou com a tal CNH. Motivo de júbilo e satisfação que carrego na minha carteira surrada. E quando me perguntam quantos anos faz logo respondo: “faz tanto tempo que nem me lembro mais”.

Por falar em anos. Ou tempos que já passarinharam. Ainda me recordo de quando ia a missa das nove e meia. A qual nunca tinha início antes das dez.

Lá ia eu todo engomadinho do lado direito do meu saudoso pai. Bem acompanhados por minha querida mãezinha Rute. Meu terninho azul marinho com riscas de giz branco diziam ter sido feito com restos de tecido da calça de meu avô Rodartino Rodarte. Marido da vó Umbelina Rodarte de Alvarenga. Gente oriunda da velha vizinha Perdões. Mas poucos a conheceram como Umbelina já que seu nome primeiro era mais tido como vó Belica. Aquela mesma que plantava rosas amarelas em seu jardim suspenso onde hoje existe um predinho imponente logo no começo da Rua Costa Pereira. De paredes grudadas à velha caixa d’água me parece que antes daquela rua ter início o velho depósito de água da Copasa já existia de tão vetusta que a tal me parecia. Ainda mais idosa que a casa do doutor João Batista Ribeiro. Marido da Dona Violeta. Creio que eles dois morreram quase aos cem.

E por falar em minha iniciação cristã fui batizado como Paulo Expedito Rodarte de Abreu.

Creio ter sido aquela efeméride na pia batismal da Igreja Católica Apostólica Romana. Reconhecida como a velha Igreja Matriz. Um marco de nossa cidade. Vizinha da nossa Santa Casa. Ombro a Ombro. Paredes feitas lado a lado. acredito, dentro das minhas descrenças. Que tanto a igreja matriz quanto a velha Santa Casa tenham trocados fofocas quando no começo de suas edificações.

E, naqueles tempos áureos costuma ir à missa das nove e meia. E quando o vigário dizia seu ultimato: “vão em paz que o Senhor os acompanhe. Eu me desvestia do paletó do meu terninho azul marinho listrado em riscas de giz branco e, de suspensório e de calças curtas corria serelepe a tentar namorar, ou flertar, com aquelas mocinhas pudicas que caminhavam meio comportadinhas no rela do jardim.  E foi com uma garota quase debutante que eu me casei. Seu nomezinho era meio complicado de completar por completo-Rosemiriam Correa Lasmar e depois veio a assinar de Abreu”.

Anos mais tarde deixei a velha igreja matriz entregue aos seus santos e querubins. Não que tenha abandonado por inteiro a religião dos meus antecessores. Pois pois, como diriam meus aparentados oriundos de Portugal não perdi a mania de dizer pois pois.

Mas me confesso um tanto relapso quando me indagam qual religião professo.

Digo e afirmo simplesmente que este sobre o qual chamam-no Deus pra mim está presente na chuva mansa que tem caído. No suspiro do vento o qual acarinha a minha face nos dias de calor. No chorinho meio perdido do recém nato que perdeu a mãe de vista ao sugar-lhe as tetas a hora da mamada. Nas maritacas que são responsabilizadas por chocar no velho telhado semi roto das casas nas roças. E a elas imputam a desgraça de roerem os fios de luz desencapados e soltos nas lajes desconcertadas.

E vejo ainda o filho da Santa Maria sua mãe. Nas minhas correlancas desembestadas pelas estradas asfaltentas. Muitas delas esburacadas e mal conservadas. E por onde caminho só vislumbro descaminhos.

Até neste domingo que o calendário levou suas horas e datas. Quando fui convidado pelo pastor Matos e sua linda familia adepta da igreja Sara Nossa Terra a participar de seu culto numa casa próxima à saída do Rex Shopping.

E fui, de carona no carro do mesmo pastor Matos assistir as demonstrações de fé no Senhor Nosso Pai e Protetor.

Foi um culto sem par. Confesso-me sentir, cá dentro de minhalma sedenta de fé nos desígnios do Senhor, nosso salvador, uma aceleração dos meus batimentos cardíacos como nunca dantes sentido nem ao menos experimentados em qualquer período anterior.

 

Estou atravessando uma encruzilhada de descaminhos. Não sei se vou por aqui ou acolá.

Quem sabe a igreja Sara Nossa Terra daria conta de pelo menos de amenizar. Ou até mesmo sarar o turbilhão que me consome as entranhas deste meu corpo pagão?

E me tirar deste enorme apagão em que me acho? Em absoluto nem sequer imagino. Quem sabe?

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