Antes uma lenda viva a um saudade morta

“Libertário”

A Suellen Giarolla

Se queres ser livre, sê Pleno!

Só a plenitude te desata do cativo desejo

De, sozinho, desatar nós.

Só ela quem, ciente da inevitável fome,

Impele-te humildemente saciar-te

Na secreta fonte mútua do amor

Se queres ser livre, sê Pleno!

Amarra-te circunspecto ao que, em ti, é ausência

Sem que, no entanto, o vazio te limite de voar

Com as asas altruístas do que te quer bem.

Como um sonho compartilhado

Com alguém que sequer adormeceu

Mas que, no entanto, em vigília, de ti se alucina!

Se queres ser livre, sê Pleno!

Pleno de insistente ânsia de si prolongar

Além das fronteiras imprecisas

Do que em ti é o outro ou vice-versa…

Pois só é livre, mesmo, quem,

Plenamente ao outro se prende.  “Lucas Giarolla” – Lavras 14 de setembro 2021

Meu bom Deus!!!

Como gostaria de poetar assim. Já disse a ele, o autor, colega de farda e de escrita: “quem sou eu, com minha prosa insossa, a fazer frente ao lirismo dos seus versos”.

E ele assim me respondeu: “quem sou frente as suas intrépidas e divertidas crônicas”?

A nossa rasgação de seda parou por aí. Já que era tarde da noite de ontem.

Ah!, já ia me esquecendo do seu dito final: “tens a minha profunda admiração”.

Lucas Giarolla, meu vizinho de consultório, ainda não chegou por aqui.

Logo ele chega. Creio que ele não escreve na sua sala, com quem divide a arte da sua especialidade com sua mãe Tânia.

Nós, poetas, cronistas, romancistas, jornalistas, e uma lista imensa de quem se atreve na arte da escrita, pouco valor ensejamos cá, neste país à deriva.

Viver de literatura, seja qual for sua cor e vestimenta, em verdade se trata de uma aventura perigosa. Que se mostra a cada curva da estrada, em cada encruzilhada, nos descaminhos que muitos dizem não entender o por que de tantos porqueres.

Eu mesmo, desde quando comecei escrever, não com tanta feericidade, ou entendam, ferocidade, compulsivamente a cada madrugada, penso, dentro de mim mesmo: “ o que seria do meu eu, caso não tivesse o dom ( não o nominho do meu netinho lindo, que foi batizado por Dom, por seu pai, meu genro),  não parei mais.

Tenho, perfilados às minhas costas, um amparando o outro, cerca de dezoito livros, variados, ombreando, lado a lado, nesta estante já cheia de cupins. Espero que estes insetinhos vorazes não devorem todos os meus filhos livros. Pois sou um pai extremado. Assaz ciumento não só da minha Rosa mulher, como da mesma forma sou tomado de paixão incontrolável por cada livro de minha lavra.

Hoje contabilizo dezoito. Não irei nomeá-los um a um.

Basta, aos interessados, procurá-los em meu site – www.paulorodarte.com.

Já disse, e não vou contradizer-me, que, quando eu tiver de morrer, contra a minha vontade, que esta data seja num dia trinta de fevereiro, ano bissexto, antes, bem antes do carnaval.

Desejo que segurem a alça do meu caixãozinho branco, tal e qual aquele de um menininho peralta, lourinho, cabelos encaracolados, como do meu netinho Theo, peladinho no galinheiro, cuja foto não me deixa mentir, quase perdi a fimose, do meu biquinho de lamparina, ah, se aquelas galinhas ciscantes, ousadas, tivessem bicado o meu pintinho.

Voltando à alça do meu caixão, que ele seja recheado de livros, não de flores, sempre vivas ou jasmins, gostaria que o primeiro a se oferecer pra levar o defunto erudito, que fosse a minha esposa Rosa. A outra alça, à mão esquerda, que fosse o meu filho Stenio. Um baita entendedor de leis, e leitor compulsivo. Deixaria a terceira, falta a quarta, não sei quantas alças tem um ataúde igualzinho aquele que desejo que me faça companhia, naquele túmulo escuro, por favor eu lhes peço, comprovem se de fato eu esteja realmente morto, jamais me enterrem vivo, a minha pequena jornalista, que, quando tomava o busão na rodoviária, com destino ao Rio de Janeiro, eu, e minha esposa, mal contínhamos as nossas lágrimas lacrimejantes.

Falta a última e derradeira alça do meu ataúde branquinho. A quem me atreveria a deixar a quarta alça do meu caixão? Não sei ao certo. A quem me oferecer compaixão.

O que significa lenda viva: são pessoas cujos feitos são inacreditáveis, que realizou proezas que suplantam os limites da imaginação.

Sempre me acalentou um desejo. O qual coloco neste texto testamento de agora cedo.

Se alguém, por ventura ou desventura, quiser me homenagear, que o façam em vida.

Depois da morte nem irei saber quem foi ao meu velório. Ou quem derramou lágrimas sobre mim, ou sobre o tampo do caixão branco, segundo atestado no meu atestado de óbito.

O que valem flores para um defunto morto? Ele não vai sentir o perfume nem das rosas ou margaridas silvestres.

Nem vai enxergar, ou identificar, aquelas lágrimas sentidas, ou aqueloutro falso amigo.

Se quiseram me celebrar que o façam em vida. Não façam placas, ou deixem um busto meu numa pracinha qualquer. Certamente ele vai ser latrina de pombos. Ou de vândalos que insistem em deixar suas marcas na minha carantonha feiosa.

Podem dizer que PAULO RODARTE tenha sido uma lenda viva. Como já me epitetaram um dia qualquer.

Mesmo assim declaro. Deixo bem claro, meus preclaros amigos e desafetos.

Antes uma lenda viva a uma saudade morta…

 

 

 

 

 

 

 

 

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