” Pai. O senhor tem orgulho de mim?”

Às vezes me questiono qual o sentido exato da palavra orgulho.

Antes entendia que orgulho seria: sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra. No idioma chinês se escreve com alguns pauzinhos. Em outros se grafa de formas dispares.

Eu tenho orgulho de você. Meu filho.  Existem vários tipos de orgulho. Segundo a psicologia dois tipos existem: positivo e negativo. A forma positiva está diretamente ligada à autoestima e autoconfiança. O negativo unissonamente unido à soberba.

Pra mim orgulho nada mais é do que sentir, por dentro, um sentimento maiúsculo, mesmo se escrito em letrinhas minúsculas, pra mim aquele ou aquilo pelo qual sentimos um desejo imenso de bater palmas, ou até mesmo cumprimentá-lo por um feito qualquer. Algo que nos enche de orgulho. Como a aprovação em um concurso, difícil, após uma prova que comprove a sua capacidade de se dar bem nesta vida complicada em que nos encontramos.

Um dia um pai, encarando um filho pela primeira vez, pra ele desconhecido, por absoluta falta de tempo, ou oportunidades, eles tiveram a chance de se abrirem um com o outro.

Era um pai ausente. A mãe, nem tanto.

Naquela tarde ensolarada, num outono finito, pai e filho entabularam uma conversa franca pela vez primeira.

“Pai, confesso, sem estar presente ao confessionário, ao senhor, as minhas angústias e frustrações. Até na data presente sinto-me perdido na encruzilhada de quem sou eu. Tem horas que a presença de mulheres me atrai. Noutras me sinto tal e qual uma delas. Ao me olhar no espelho pressinto que deveria ter nascido noutro sexo. Horas outras não me sinto à vontade soltando pipas. Gostaria que a brincadeira fosse outra. Que linda aquela casinha de bonecas! E como aprecio vesti-las todas com vestidinhos de chita. Qual oncinhas bravas. Não sei se vou me consultar com um urologista ou com o seu revés. Mulheres vão ao ginecologista. E eu? Pra onde vou? Se fico, se volto, se uso saias ou calças compridas. Pai, me perdoe se não me faço entender. Estou indefinidamente indefinido. Entre a cruz e a espada. Se sou espada, ou uso a minha fenda para outra serventia. Já tentei me relacionar com mulheres. Mas, como foi bom aquela primeira vez com meu priminho. Trocamos semana. Eu por baixo, ele por cima. Me adaptei melhor como fêmea. Agora, aos vinte e poucos anos, ainda estou mais pra lá do que pra cá. Me deu uma vontade imensa de ir à parada do orgulho gay. Os adeptos do Lgbt me seduzem. Não me chamem de boyola. Prefiro ser chamado de homoafetivo. Não gay. Meu querido pai. O senhor tem orgulho de mim?”

Não sei o que aquele pai respondeu. E eu, numa situação semelhante. O que teria respondido. Não sei…

 

 

 

Deixe uma resposta