E agora Paulo

Parodiando Carlos Drummond de Andrade, no seu lindo “E agora José”.
E agora Paulo Rodarte?
A festa nem bem acabou. A noite mal começou. A alegria finou. Os foliões foram-se simbora.
Tristes e acabrunhados. Levando na cara mal dormida sinais de abandono. Lágrimas sentidas
escorrem-lhes pelo canto dos olhos. A tristeza predomina. Pressente-se mais um dia de agonia.
Neste paiseco onde dizem que seja o país do carnaval.
Mais um carnaval que passou. E as tais máscaras continuam a esconder-nos a identidade. E
esta pandemia não tem hora e lugar pra terminar. Embora incontáveis doses tenham sido
aplicadas no abraço de um braço amigo. E continua a rotina de uma doença, malfadada hora
em que ela teve inicio.
E agora Paulo Rodarte? Dizem que seu sobre significa rodar com arte. Artioso menino que um
dia fui, anos e anos atrás.
A festa terminou melancolicamente. Deixando no seu rastro mocinhas embarrigadas. Que não
se preveniram adequadamente. Os tais métodos contraceptivos foram relegados ao olvido do
esquecimento.
E agora Paulinho. Como te chamava sua mãezinha querida. Que nos dias de agora avoa nos
céus. Ela nunca será esquecida. Pois mãe só tem umazinha. E a sua presença benigna faz falta
como a comida que mais e mais escasseia nas mesas. Nesta crise sem precedentes no pós
pandemia. Muito embora ela persista ainda nestes dias de outono, quase inverno, frios
gélidos.
E agora Paulo Rodarte. Suas pernas claudicam. A idade lhe cavouca as entranhas. O peso dos
anos chegou castigando-lhe a saúde. Quantos anos mais lhe restam de vida? Não quero saber.
Vivo o presente. Com grande intensidade e intempestividade. Mas sem nunca me esquecer do
que passou. Naquela rua, que daqui se avista, bem perto, com olhos lacrimejantes de
saudades.
E agora Paulinho. Meninozinho lourinho como meu netinho Theo, sem nunca me esquecer dos
outros dois. Dom e Gael disputam a minha preferência. Tenho olhos e verdadeira adoração por
eles todinhos. São feitos dos mesmos genes herdados dos meus queridos pais.

E agora Paulo Abreu. Sou uma mistura dos Abreus com os Rodartes. Ambos oriundos de uma
pátria d’além mar. Onde se diz dar de comer aos olhos com o mesmo significado de degustar
sem comprar. Numa lojinha qualquer.
E agora Paulo Expedito Rodarte de Abreu. Nunca irei dizer se não vais pagar nem eu. Devo não
nego. Pago quando esta pandemia passar. Num dia de são nunquinha. Que elezinho perdoe a
minha ofensa.

E agora garoto Paulinho. Aquele garotinho amalucado. Que aos mais de setenta ainda pensa
ser menino. Apesar de o espelho dizer o contrário.
E agora moleque Paulinho. Aquele que, aos mais de setenta, jamais irá se jubilar por completo.
Pois entendo uma verdade verdadeira. Conforme meu pai dizia: “o ócio nada mais é que o
começo do fim.”
E agora Expeditinho. Expedito quer dizer esperto. Não esperto no sentido de espertalhão. E
sim um tanto quanto irrequieto. Sem parança, com muita sustância por dentro. Meu filho
maior, Stenio, um baita advogado, leitor contumaz e não contundido, jogador de tênis quase
perfeito, não fossem as imperfeições que nos consomem.
E agora Paulo. Amigos de infância me chamam de Paulinho. Pois espichei quase um
cadiquinho. Se bem que considero a verdadeira altura de um homem se mede do alto da
sobrancelha a raiz dos cabelos da testa ancha.
E agora, voltando ao grande poeta itabirense, ou seria itabirano?
E agora José? Não sei se volto ou retrocedo. Se sigo em frente ou dobro a encruzilhada. Se faço
macumba ou como a galinha previamente depenada. Se tomo a pinga ou degusto um velho
uísque importado. Não importa. Que a porca torça o rabo. Desejo sim é que a mula manque.
Mas não desmarque nosso compromisso.
E agora, que a festa acabou acabando. Que a Colombina tenha chutado o pobre Pierrô
perdidamente apaixonado.
Mesmo assim vou beijar-te agora. Finaram-se as cortina do meu país do carnaval e futebol.

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