Foi aquilo que matou o Antenor?

A gente cresce, envelhece, e sente o tempo passar.

Não há como ficar imune a passagem dos anos.

Tudo na gente muda.

A vista claudica. As pernas enfraquecem. O sono encurtece. A vida muda sem que a gente possa opinar.

Antes tudo era um mar de rosas. Pena que os espinhos aparecem.

A senilitude se torna um mal sem cura. As doenças mais e mais prevalentes acabam com a saúde da gente.

De repente, quando menos se espera, lá veem os anos. E com eles os desenganos.

E a gente, quando morre a nossa companheira de tantas primaveras, quando a idade chega, carecemos de uma cuidadora. Não há como passar a velhice em nossa única companhia.  Não apenas a solidão passa a nos incomodar. Assim como a necessidade alguém ao nosso lado passa a ser uma contingência da vida do ancião.

Assim aconteceu a uma pessoa de cuja lembrança a saudade me traz.

Antenor era um velho conhecido. Com ele vivi parte da minha infância.

Ele era um bom vizinho. Atencioso, prestativo, sempre pronto a ajudar.

De repente se viu só. A esposa amada se foi. Deixando uma lacuna impreenchível não apenas no leito do amado. Como na sua vida toda desde quando foram apresentados.

Ela tinha quase vinte anos. Ele, um cadinho mais. Foi amor a primeira investida. Desde então nunca mais se desgrudaram. Passaram a ser um pelo outro. Até que a morte os desuniu.

Antenor, nesta fatídica ocasião, contava com quase oitenta anos. Ainda era lúcido e gozava de boa saúde. Em verdade, já que a adorada companheira não tinha mais interesse pelo sexo, era diabética, hipertensa, e tomava uma infinidade de remédios, não se exercitava como deveria, um dia caiu de cama. Nunca mais se levantou.

Antenor, sempre disposto a uma aventura, de vez em sempre dava os seus pulinhos.

Era ainda bom naquilo que os homens se vangloriam. Não lhe faltava excitação. Só que seu instrumento de trabalho, longe de serem as mãos, quase sempre não empinava como a pipa num dia de ventania forte. E ficava cabisbaixo, olhando pro chão.

O dia em que a esposa veio a óbito foi a maior tristeza da vida do pobre Antenor. Quase entrou em depressão.

Salvou-o da pior sorte este amigo que escreve. Que além de médico especialista em urologia é doutor em aconselhar, naquelas horas que mais precisa.

Um dia o velho Antenor aqui compareceu ao consultório. Era uma sexta-feira, dia de celebrar- Sextou!

O motivo de sua vinda não era outro senão a incapacidade de manter a ereção. Assim que a patroa morreu o velho amigo se viu em dificuldades.

Eis que lhe apareceu, um mês depois da fatídica perda, uma linda rapariga. Ela se apresentou como Doroteia. Além de cuidadora de idosos era uma belezura de encantar as vistas.

E como era formosa a dita cuja. Lábios carnudos. Um par de nádegas feitas a compasso. Pernas pra que te quero perto de mim. Uma fala macia como a crina da égua alisada constantemente. Um verdadeiro capim gordura para os gostos mais extravagantes.

O velho Antenor, ávido por consumir aquele banquete, de repente falhou.

Não apenas na primeira tentativa como nas posteriores. Foi por este mesmo motivo que ele me consultou.

Depois de examinar-lhe a próstata, com meu dedo indicador, de escrutinar-lhe o corpo todo, dei-lhe nota nove e meio no estado geral.

Não foi preciso pedir exames. Ele os tinha feito no mês anterior.

Prescrevi-lhe um remédio que prometia resultados favoráveis. Nunca careci dos seus préstimos até esta idade em que me encontro. Muito embora tenha amostras grátis.

Depois da receita prescrita o velho Antenor saiu sorridente do meu consultório. Prometendo me trazer boas novas.

Um mês se passou. Outro ano passou a fazer parte do nosso calendário.

Dois meses são passados.

Foi quando me chegou a noticia de um infausto acontecido. O velho Antenor bateu as botas. Faleceu numa noite escura. Abraçadinho a sua nova manteúda.

A causa mortis, escrita no laudo cadavérico, não foi outra senão hemorragia pelo corpo inteiro. Dizem, as más línguas, que tudo aquilo foi consequência daquela pilulazinha que promete levantar defunto. Eu não concordo.

Somente os maus ouvidos, dão atenção ao que dizem, as más línguas. Tenho dito.

 

 

 

 

 

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