Não sei o que me reserva o amanhã

Não é de agora que penso, a cada dia, o que me reserva o futuro, já que o passado e o presente já não mais são incógnitas, conheço bem o que passei, e ainda passo, mas desconheço o que vai pela frente.

Adivinhar o futuro talvez não seja uma boa ideia.

Melhor vivermos intensamente o dia de hoje. Não nos esquecermos do passado. Pois ele está indelevelmente guardado dentro de nós. Jamais irei me esquecer dos meus pais.

Não sei o que vai ser de mim.

Certo que hoje vivo cercado de amigos. Tenho uma família, tanto a que me fez nascer, como a outra que escolhi para viver, não poderia ser melhor.

Uma esposa guerreira. Dois filhos que me presentearam com três netinhos. Não tenho do que me queixar da profissão que escolhi.

Ela ainda me seduz. Compartilho-a com a efervescência de escrever a cada manhã.

As crônicas, o cotidiano, o que meus olhos enxergam, o que minha inspiração dita, são atrativos que me ajudam a continuar a vida.

Acordo ao nascer do sol. Desperto quando o relógio assinala menos de seis da manhã. Tomo um cafezinho frugal. Passo a atender a partir das oito. Volto ao apartamento bem antes da hora do almoço. Isso se repete de segunda a sexta-feira.

A tarde retorno ao consultório. Atendo aqueles que me procuram. Ainda não sei até quando irei repetir essa rotina. Por enquanto ela me satisfaz.

Não sei o que será de mim de agora a algumas horas. Só sei que nada saberei. Não me interessa saber.

O que vai acontecer de agora a alguns minutos não faço questão de conhecer. Vivo intensamente o momento presente.

O que está a minha frente? Apenas um prédio enorme. Que tapa a minha visão para o outro prédio onde vivo.

Do lado esquerdo estão dois lotes vazios. Onde antes era a casa dos meus pais e de um tio querido. Aquela é a Rua Costa Pereira. Por onde sempre passo ao cair das tardes. Ali passei grande parte do meu passado. Aquela rua me inspira saudades.

Ignoro o que vai ser de mim de hoje em diante. Só me basta saber que no momento presente tenho tudo que desejaria.

Uma família maravilhosa. Um passado do qual não esqueço. Pais amantíssimos que me ensinaram tudo que precisava. Foi com eles que aprendi que o amor tem endereço. É o daquela casa da Rua Costa Pereira de número 152. Que agora está reduzida a um lote vazio.

Não sei o que vai ser de mim de agora a alguns dias. Resta-me um consolo.

Estou prestes a completar setenta e dois anos. Num dezembro próximo.

Onde estarei no ano vindouro? Por certo estarei por aqui. Tentando, neste mesmo computador, relembrar tudo que passou. E ainda vai passar. Por anos e anos enfim.

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