Apesar dos pesares

“Com tudo conspirando contra, ainda que tudo aponte para o contrário, eu te amo, mesmo assim”.

Não é bem isso que diz a letra, daquela canção canhestra, a qual descobri em pesquisa curta, nesta manhã de uma quarta-feira, feriado prolongado, no qual se comemora o aniversário de nossa querida Lavras.

Conforme diz a história o primeiro povoamento aconteceu num distante 26 de julho de um mil setecentos e vinte. Promovida a arraial em 20 de fevereiro de um mil setecentos e vinte e nove. Transformou-se em freguesia a 19 de julho de um mil oitocentos e treze. Virou vila em 13 de outubro de um mil oitocentos e trinta e um. Daí a cidade em 20 de julho de um mil oitocentos e sessenta e oito.

Portanto a nossa velhinha comemora no dia de hoje, embora não seja julho, seus cento e oitenta e três anos. Parecem menos.

Pouco resta do seu casario antigo. Os sobrados já foram demolidos. Em seus lugares prédios altos olham de cima o seu passado.  De tantas histórias contadas por nossos antepassados.

Eu amo Lavras desde quando a conheci. E ela já existia a um par de anos antes.

Foi amor à primeira visita. Naquele ano de um mil novecentos e cinquenta e cinco pra aqui me mudei. Vim de uma cidade perto. Daqui do alto se avistam dois lotes baldios. Onde antes moravam meus pais e um tio querido.

Amo Lavras embora nela existam problemas. E quem não os têm?

Dizem que ela tem apenas duas ruas. Uma que sobe. E outra que desce.

Que o trânsito anda complicado. Que os passeios estão cheios de buracos. Que se torna difícil andar por eles nas horas de pico.

Dizem que em nossa cidade faltam empregos. Que o dinheiro anda faltando no bolso da maioria. Como se fosse novidade no pais onde nascemos.

Comentam que a saúde, longe de ser um direito de todos, só privilegia a uma minoria que tem a sorte de ter plano de saúde. Mas se olharem no entorno verão que isso não é privilégio só nosso. No país inteiro o que se vê são filas imensas a porta de hospitais lotados, soberbamente nestes tempos de pandemia.

Falam mal de nossa cidade por desavenças entre grupos políticos dominantes. A minha pergunta continua sendo: “onde isso não existe”?

Apesar dos pesares amo Lavras com seus defeitos e qualidades.

Aqui abundam escolas. Florescem ipês no tempo certo. Respira-se um ar puro de pura intelectualidade. A sua localização é a melhor que poderíamos escolher. A meio caminho entre a capital do nosso estado e a populosa São Paulo.

Amo Lavras apesar dos seus pesares. Onde poderia encontrar um lugar melhor pra se viver?

Aqui encontrei a felicidade. Foi onde descobri que para ser feliz basta olhar pro lado e vislumbrar a serra da Bocaina. Pra baixo a rua onde cresci. Do lado esquerdo posso ver a Praça Augusto Silva. Foi onde, no rela do jardim, deparei-me com uma mocinha linda, que hoje é minha esposa.

Foi nesta cidade amada que constitui família. Meu bem maior. Meu tesouro.

Foi aqui, nesta cidade onde defeitos são facilmente sanáveis, onde espero continuar até quando Deus me chamar.

É aqui, apesar dos poucos pesares, onde pretendo fincar raízes. Tao fortes e resistentes como as da velha Tipuana. Que até hoje resiste às pragas que ameaçam sua longevidade.

Amo Lavras apesar dos seus pesares. E quem não os têm?

Caso pudesse escolher outra cidade para viver não teria dúvidas. Seria mesmo aqui. Onde desejo passar meus últimos dias. Até quando meu destino vaticinar.

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