A partir de certa idade não se deve adiar planos

Hoje, bem cedo, neste dia maravilhoso, assentado no trono pensei cá comigo.

O que nos reserva o amanhã? E depois de outro amanhã?

Será que o outro amanhã vai nos receber de braços abertos? Ou outro dia qualquer.

Essas indefinições sempre me apoquentaram. Desde sempre. Até naquele dia imprevisível quando não mais estiver por aqui.

Sempre me disseram que o amanhã a Deus pertence. E nós? Não teremos alguma coisa a ver com as consequências?

Viver o dia de hoje deve ser a máxima que nos norteia. Mas, e as lembranças? Como nos desvencilharmos delas? No meu caso é impossível. Vivo pensando no ontem. No trasanteontem.  E no passado que pra mim não fica enterrado numa cova rasa e escura. Acolhendo nossos restos mortais. Indefinidamente.

Bem sei que, a partir de certa idade, perdida a mocidade, deixando pra trás o pretérito, bendito passado, não se deve ficar postergando planos. O amanhã é uma incógnita. O futuro é imprevisível.

Faça agora o que deve ser feito neste exato instante. Hoje o sol sorri. O dia nasceu sorridente. E, se amanhã uma tormenta cair sobre nossas cabeças? O que vai sobrar da gente? Apenas o que ficou será lembrado. A partir de nossa partida tudo será diferente. Considero que deve ser homenageado em vida fundamental para nos trazer lembranças ternas. De nada adianta prantear nossos entes queridos se durante as suas existências eles nada representaram pra nós. Filhos alheios à enfermidade dos pais. Netos indiferentes à saúde dos avós.

Descobri, ainda bem que foi num tempo atual, que de nada adianta retardar nossos planos. Façamos agora o que temos vontade. As viagens não devem esperar pelo ano seguinte. Pois não sabemos o quanto mais de tempo que nos resta.

A partir de certa idade não mais vai ser previsível abraçar velhos amigos. No ano vindouro muitos deles já não estarão mais junto a nós. Ou esquecidos numa casa de idosos. Ou fatalmente solicitados a visitar aquele lugar desconhecido. Ao lado de Deus Pai. Entre pessoas queridas que já não estejam mais por aqui.

Descobri, neste ano da pandemia, quantas vidas foram ceifadas, quantas perdas aconteceram, que não devem adiar planos.

Fatalmente muitos deles levariam aos desenganos. Pois não sei quanto tempo mais viveremos.

Sei que o hoje conta. Que o amanhã se torna incerto. Como também não ignoro que o ontem deve ser lembrado. Nossos pais nunca serão olvidados. Assim como nossos ancestrais contam e muito.

A partir de agora vou mudar minha conduta. Farei tudo que me apraz fazer no dia de hoje.

Não irei deixar para o amanhã a realização dos meus desejos. A eles buscarei com todas as forças que me restam.

E, se por acaso eu partir antes da hora, deixo aqui estas palavras. Não foi por culpa minha a minha partida. Não desejaria nunca partir antes da hora.

Daí a minha obstinação em fazer tudo agora. Já que desconheço o que vai ser amanhã.

 

 

 

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