“Se preocupa não. Se não chover hoje não passa de amanhã”.

A cada dia que passa acordo olhando pro céu. E olho pensando na chuva que tarda em cair.

Pena que via de sempre ele amanhece de um tom azulado. Sem nenhuma nuvem cinzenta para concretizar meu desejo.

O sol sorri da minha pessoa. E ele diz: “que nada. hoje reino soberano por estas paragens. E a chuva, coitadinha dela, tem medo da minha claridade. Tenho vencido as nuvens desde quando o inverno se manifestou. Espere a primavera chegar. Quem sabe ela traga um cadinho de chuva. Aí sim. Nestes dias chuvosos escondo minha cara iluminada. Apesar de chuva com sol indicar o casamento da viúva”.

Tenho esperado a chuva com a mesma intensidade do homem do campo.

Ele, melhor do que a gente, sabe quando a chuva vai cair. Assim como prevê a época certa de plantar. De arar a terra para depois semear.

Naquela manhã de sábado, foi no último deles, neste mês de setembro que não tem trazido chuva, e como ela tem feito falta, encontrei-me com Seu Eusébio.

Ele, de enxada em punho, se preparava para carpir um pedacinho de chão pertinho de onde morava. O solo estava duro. Faltava aquela umidade tão preciosa para quem deseja plantar uma horta de couve misturada a tomates, cenouras, beterrabas, um cadiquinho de jiló, e outras verduras que gente da cidade aprecia tanto, que compra nas feiras a preços não tão convenientes.

Seu Eusébio vivia da renda das verduras. Cansou de tirar leite. Dado ao preço salgados dos insumos.

Colhia couves que se derretiam como manteiga. As beterrabas eram vermelhinhas como o sangue que escorre em nossas veias. E as cenouras? Dava gosto de apreciar tais guloseimas. Amarelinhas como um canarinho da terra. Que eram vistos ciscando o esterco do curral.

Seu Eusébio acordava ao cantar do galo. Na noite anterior irrigava aquela plantação. A chuva não dava o ar da graça. E era uma desgraça esperar por ela. Já que tudo estava numa quentura de deixar ventilador ligado a noite inteira. E quando chegava a conta da energia? Era uma preocupação a mais para aquela gente boa da roça.

O tempo clamava por chuva. Setembro quase se despedia. Quem sabe outubro iria trazer noticias boas? Assim sonhavam todos aqueles que moravam na roça.

Foi naquele sábado que passou, a galope, num trote fraco, que me deparei com Seu Eusébio assentado, desconsolado, a uma pedra dura, à porta de sua casa.

Parei um cadiquinho para prosear com ele. Há tempos não o via.

Assim que estacionei meu par de pernas andarilhas, defronte a sua pessoa, comecei a prosa falando do tempo.

“Como o tempo anda seco. E como tem feito falta a chuva. A estrada só cospe poeira. Aqui chego quase tinto de uma cor amarelecida. Quase um pastel recheado de vento. O senhor já plantou a roça de milho? E a horta? Tem produzido a contento? E quando vai chover de novo? O senhor tem previsão”?

Quase fechando os olhinhos de sono, já que o amigo tem o costume de empoleirar-se junto às galinhas, Seu Eusébio me respondeu, num muxoxo ininteligível: “no mais tardar amanhã, ou, se não me engano, depois de outro amanhã, com certeza a chuva vem. Se apoquenta não! Mais cedo ou mais tarde cai água. Minhas previsões não falham. Ontem mesmo me coçou o calcanhar. É um sinal inequívoco de que a chuva vai molhar”.

E não é que ele tinha razão? Começou a chover na manhã seguinte. E a chuva serenou logo depois.

 

 

 

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