Cada um no seu ninho

Um dia, era fim de tarde, antes de sair de casa, morava ainda no condomínio, mais ao sul da cidade, pertinho de uma pracinha agora remodelada, descobri, numa folha de rafia, um ninho de passarinho.

A partir de então passei a observar quem seriam os donos da tal habitação tosca. Sabia, de antemão, que se tratava de um casal de passarinhos. Mas nem de longe conhecia a identidade daquelas avezinhas emplumadas, se seriam de qual espécie: pardais, azulões, beija-flores, bem-te-vis.

Só num sábado, em plena tarde, era verão, acabei por descobrir quem seriam os autores daquele ninhozinho feito com todo cuidado para receber dois ovinhos.

Era um casal de beija-flores. O macho, de cor verde musgo, era o pai daquela família ainda em seu começo. Já a mãe, uma beija-florzinha arisca, era de menor tamanho.

Ambos se revezavam na guarda daquele ninho. De repente, não mais que num repente, vi, com estes olhos inquiridores, o eclodir dos ovos. Nasceram dois filhotinhos ainda por emplumarem. Os pais beija-flores não se afastavam dali. De vez em quando os via a trazer alimento para os dois filhotes. Eram minhoquinhas frescas. Fiapos de qualquer plantinha. E os dois beijaflorzinhos cresciam a olhos vistos.

Passou um mês. Dois se sucederam.

Foi num outro sábado, de tarde, quando cheguei da minha rocinha, fazia calor, como neste dia quinze de setembro, ao passar perto do ninho de beija-flor encontrei-o vazio.

Por certo os dois filhotinhos aprenderam a voar. E partiram em direção ao desconhecido.

Agora o ninho de beija-flor se encontra vazio. Não mais é ocupado por outros passarinhos.

Dizem que os passarinhos abandonam o ninho tão logo aprendem a voar.

E dizem adeus aos pais que os geraram.  Tornam-se meros desconhecidos.

Não posso dizer que o mesmo acontece à espécie humana. Filhos retornam ao ninho onde nasceram. Alguns deles se tornam filhos cangurus.  Não se desgrudam da bolsa materna. Não por terem saudade. E sim por não conseguirem se emancipar. Tornam-se dependentes infinitamente dos pais que os geraram.

Não foi assim que aconteceu comigo.

Meus filhotes agora acabaram de se mudar. Deixaram o ninho maternal.

Ambos se mudaram para outra casa. Ontem de tarde isso aconteceu.

Mas creio, dentro da descrença que me consome, que um dia eles voltam. Talvez por necessidade de afeto. De compreensão. Um cadinho de saudade misturado a tudo isso.

Meus filhos deixaram o ninho deixando no seu rastro um cadinho de saudades. Foram eles que me deram netos. Ai que saudade daqueles menininhos espertos. Que fazem diabruras com os seus avós. Fazem da gente gato e sapato. E como amo vê-los bem de perto.

Ontem mesmo a minha morada ficou vazia. Como aquele ninho de beija-flor.

No caso dos beijaflorzinhos aquela casa ninho nunca mais vai ser habitada. Ao revés da minha. Que sempre vai receber meus filhos com todo o amor que eles merecem.

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