Sentimento que vai e volta

Alguém de vocês já brincou de bumerangue? Atirou aquele brinquedo na intenção de vê-lo de novo. E ele caiu longe de suas mãos? Se não o fez não sabe o que perdeu.

Da mesma forma já não brincou de pique-esconde? Escondido num canto, ou debaixo de um lençol, brincando de cabaninha junto aos seus netinhos? Se não o fez não teve infância. Ou nunca soube o quanto era bom.

Agora, nesta idade que me cavalga às costas, já pertinho de completar idade nova, no próximo dezembro, voltei a ser criança, apesar de, se deixar minha barba crescer vou parecer ao Papai Noel, de tantos fiapos brancos que me enfeitam as têmporas, embora uma calva luzidia se assente no alto da cabeça.

Como um bumerangue existem sentimentos que vão e voltam.

Como exemplo cito a saudade. Daqueles velhos tempos que não retornam. Na verdice dos meus vinte anos.

Ai que saudade eu sinto das férias de fim de ano. Quando passava um mês inteirinho na fazenda de um tio meu. Foi lá que tomei gosto pela vida na roça. Foi ali mesmo que meu pai nasceu.

Ai que nostalgia me traz aquela casa da Rua Costa Pereira. Foi lá que me acostumei a valorizar a saudade.

Ali vivi a minha primeira infância. Aprendi com meus pais a ser tolerante. Foi lá que tomei gosto pelas letras. Aprendi a soletrar o baba.

Sentimentos continuam a brotar dentro de mim.

Foi naquela Belo Horizonte antiga, hoje bastante modificada, que comecei meu périplo pela medicina. Não sem antes sentir saudade dos meus pais.

Foi aqui mesmo, nesta cidade tão querida, que me despedia de minha filhota linda, quando ela ia ao Rio de Janeiro, malinhas às costas, e chorosa me dizia: “meu pai. Logo estarei de volta. Não chore. A nossa despedida é como uma gota de orvalho. Que seca logo que vem o sol”.

Aquele sentimento de abandono era como um bumerangue que vai e volta.

Tempos depois, quando nasceram meus netos, senti, por dentro, um sentimento de alegria. Por eles, e através deles, renovo-me, não sinto tanto a velhice chegar.

Sentimentos vão e voltam. Assim como o vento, que assopra e se acalma. Da mesma maneira que minha mãe me acalmava, quando algum coleguinha da escola me atazanava.

Ainda hoje sinto, por dentro, uma angústia profunda. Por não ter mais meus pais por perto.

No entanto, tenho como certo, que um dia me juntarei a eles, no ocaso da minha existência.

Sinto por dentro contínuos sentimentos.

Não sei até quando irei senti-los. Tomara para sempre.

Um dia a chuva cai. Noutros ela serena.

Sentimentos vão e vem. Assim como a gente não sabe quando vai. Melhor não saber.  Melhor ainda esquecer. Não ficar lembrando sempre.  Como dói ficar lembrando-se de fatos passados.  É um sentimento que nos machuca o âmago.  E muitas vezes não tem volta. Nem retorno. É o fim do caminho.  Não temos como viver de novo.

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