Mais um dia com sabor de derrota

Fracassos, desilusões, fazem parte do nosso viver.

Quem ainda não saboreou o gosto amaro da derrota. Se não o fez por que não viveu.

Assim aconteceu a um amigo.

Pedro, jovem ainda, amargou na boca o sabor amargo do fel.

Primeiro foi quando perdeu os pais.

Tudo aconteceu numa noite fria, em pleno inverno, quando completava dezessete anos de idade.

O pai, pessoa amável, trabalhador, chegou a casa, depois de um dia exaustivo de trabalho, tossindo forte, com dores a espalhar pelo corpo, caiu na cama e nunca mais se levantou.

Foi-lhe diagnosticado como vítima da tal doença maldita, que tem ceifado vidas pelo mundo inteiro.

Duas semanas depois foi à vez da mãe. Uma pessoa admirável. Que tinha pelo filho Pedro o maior desvelo.

Jovem ainda, Pedro nem pôde acompanhar o féretro dos pais. Tinha de se manter isolado. Perdido na sua dor. Solitário naquela casa de tantas lembranças agradáveis.

Quis o tempo que os dias se passassem. Pedro foi à luta. Era forte o bastante para enfrentar as adversidades. Assim pensava.

Como teve de interromper os estudos Pedro tinha de procurar trabalho. Era ainda inexperiente. Como o pai a ele sustentava, o jovem Pedro não pensava nunca na falta do querido provedor.

Mesmo sujeito a todas as provações o jovem saiu à cata de emprego. Era ainda cedo. Uma manhã fria, nevoenta, sem ver o azul do céu.

Foi andando, caminhando lento pelas ruas, tentando se colocar em alguma loja. No entanto percebeu que a pandemia se alastrava cada vez mais.

O comércio ressentia-se da crise. Quase não se via vivalma pelas ruas. O número de óbitos aumentava dia após dia.

De fracasso em fracasso, de insucesso a insucesso, Pedro tentava, persistia, mas nada de conseguir trabalho.

Era ainda jovem. Pensava ele. Com um promissor futuro pela frente.

No entanto, a partir daquela manhã de inverno, a rotina continuava.

Pedro acordava ao despertar do dia. Perambulava pelas ruas a procura de trabalho.

Mais portas se fechavam. Pedro, cada vez mais angustiado, pensava dar cabo da própria vida. Não havia como viver naquela agonia.

Quem sabe do outro lado da vida as coisas seriam diferentes. Sonhava com um céu azul. Ao lado dos seus amados pais.

Naquela manhã nevoenta, fazia frio de saltitar pinguins, Pedro tentou o suicídio.

Parou perto de um viaduto. Fechou os olhos. Salvou-o da morte certa uma mão amiga.

Assim continuou a história do jovem Pedro. De porta em porta procurava emprego.

Essa é a amarga rotina de muitos jovens brasileiros. Até quando? Uma pergunta sem resposta.

Até quando estaremos sujeitos a este emaranhado de desilusões? Mais um dia com sabor de derrota…

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