Outono inverno de nossas vidas

Algumas vezes pensei em catalogar cada fase de nossa vida.

Segundo dizem as estações do ano.

Uma vez meninos, antes de nos enveredarmos pela juventude, somos todos primavera.

Infelizmente crescemos. Envelhecemos. Aí, depois de passarmos pela fase moleca, jovens conscientes de nossa responsabilidade, seremos ditos seres verões. Naquele quentume de acordar no meio da noite suados. Ávidos por sairmos às ruas, somos chamados de jovens outonais.

Acredito estar vivendo a melhor fase de minha existência. Quase não tenho o que me preocupar.

Sinto-me no outono inverno de minha vida. Feliz por aqui estar. Ao lado de meus netos. De meus filhos. De uma família que sobreveio aquela de onde vim. Infeliz por não ter meus pais ao lado.

Sinto-me leve como uma pluma. Apesar de meu peso não ser o ideal.

Pressinto um futuro alvissareiro. Embora não saiba quantos anos ainda terei.

Nesta fase de minha vida tudo me cheira a flores. Sinto o perfume da chuva que cai. Da poeira que me entope as narinas. Da fragrância perfumada das madressilvas. Inclusive pressinto que a felicidade vai se arrastar por muitos anos mais.

Neste outono inverno da minha existência tenho saúde a emprestar aos demais. Felizmente as doenças ainda não se aboletaram dentro de mim. Ando, corro, nado, faço tudo que fazia dantes. Ainda melhor, considero assim.

Considero o outono a estação mais linda dentre todas as irmãs. Embora não desfaça da beleza das outras.

Outono não faz tanto frio como acontece no inverno. Folhas amarelas atapetam o chão. O ar anda meio ressequido. Talvez lhe falte chuva. Mas ela sabidamente acontece no verão.

No outono a temperatura é mais amena. Não tanto frio nem calor ao destempero.

Hoje me considero no outono inverno de minha vida. Tomara ela se estenda por muitos anos ainda. Até chegar a outro outono. Se guindo-lhe a primavera, até voltar novamente a outro verão.

Um dia estive pensando. Matutando aqui e acolá. De novo voltei à infância. Perdida entre as lembranças de um passado que passou.

Vi-me naquela casa. Onde tive a companhia de meus queridos pais.

Era primavera em seu começo, brincava naquele mesmo clube pra onde vou ao cair das tardes. As flores desabrochavam. Cheiravam à saudade que sinto deles.

Depois sobreveio o outono. Fresco, saboroso, temperatura amena.

Ao chegar o inverno quase morri de frio. Felizmente chegou o verão.

Já agora, neste outono inverno de minha vida, missão cumprida, desejo encompridá-la ainda mais.

Quem sabe verei meus netos emancipados. Felizes a cuidar da gente. Aí sim. Quando a saúde me abandonar, estiver prestes a me despedir, partirei sem maiores culpas.

Oxalá seja noutro outono inverno que por certo vai se repetir. Quando? Não sei quando será…

 

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