Ah!, não fosse por eles

Há tempo tenho convivido com estes profissionais de saúde.

Desde quando aqui cheguei, principio do mês de maio, ano de um mil novecentos e setenta e sete, vindo de terras dalém mar, aprendi que sem eles nada somos capazes.

Naquele hospital, pertinho de onde estou, ainda jovem, inexperiente, sem o seu auxilio, o que seria de mim?

Apenas mais um médico a diagnosticar enfermidades. Operar quando a doença indicar. No entanto, quando precisava puncionar uma veia, mudar o decúbito, passar um tubo nas vias respiratórias, dar banho naquele paciente acamado, mal sabia eu como proceder.

Naquelas noites mal dormidas, quando me chamavam ao telefone, não existiam os celulares, eram eles que sabiam o momento preciso de chamar o médico.

E muitas vezes ia contrariado. Com olhos fechados de sono, depois de um dia cheio de trabalho, operando aqui e acolá, tinha de intervir novamente, sempre tendo a ajuda daqueles enfermeiros competentes, que me olhavam de soslaio, dizendo: “não se preocupe doutor. Vai dar certo. Não se apoquente”.

E via de regra dava.

Noutro dia a cantilena se repetia. Mal dormia. E eram eles que davam suporte a minha missão espinhosa. Sempre de cara boa. Experimentados enfermeiros.

Já hoje, tempos mudados, ainda são eles que cuidam de nossos pacientes. Nada mudou. Mas eles envelheceram.

Quase sempre adiam a aposentadoria. Pois o que recebem é pouco para continuar a viver condignamente.

Hoje, neste dia que amanheceu frio, quatorze de junho, ainda cedo, ao chegar ao consultório deparei-me com uma cena que me fez pensar.

Uma ambulância estacionou defronte ao prédio. Graças aos diligentes enfermeiros dois pacientes foram retirados de maca, decerto oriundos de outra cidade.

Eles mal respiravam. Usavam tubos enfiados nas vias respiratórias. Com muito esforço aqueles dois heroicos profissionais de saúde ajudaram aqueles pacientes em situação delicada subirem pelo elevador. Não sei pra onde foram. Nem o que se passava com eles.

Há tempos aprendi a admirá-los. Não apenas pelo desvelo com que eles tratam os pacientes. Pela competência e abnegação. Pelo sorriso que sempre lhe enfeitam os lábios.

Ah!, sem eles o que seria da gente. Médicos, pacientes, todos envolvidos nesta ciranda contínua que se chama vida. Eles sabem como ninguém enfrentar a morte. Encaram as doenças com a coragem dos fortes. Dos bravos. Eles não podem faltar.

Ah!, não fosse por eles o que seria de mim? De todos nós?

Aos enfermeiros a minha homenagem. Por vezes não são reconhecidos.

Neste dia quatorze de junho, e em todos os outros, que sejam lembrados por sua luta constante. Que nunca percam a coragem. Que a saúde os acompanhe.

Recebam o meu afetuoso abraço. Vocês merecem não apenas o nosso carinho. Como também essa singela homenagem, de alguém que aprendeu, com o passar dos anos, cada vez mais, a reconhecer o quanto vocês são fundamentais ao nosso viver.

O que seria da gente sem vocês. Meros espectadores da vida. Já que a morte sempre sucede o que se chama viver.

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