Ano novo, vida nova

Que dia lindo amanheceu neste quatro de janeiro!

Choveu a noite inteira. Agora faz sol.

Trata-se de uma segunda-feira maravilhosa. Começo de ano. Vida nova.

O ano findo não foi fácil de atravessar. Ainda sente-se o cheiro de vírus no ar.

Atravessamos tempos difíceis. Incontáveis vidas se perderam no decorrer destes amargos trezentos e sessenta e cinco dias.

Mas, dentro da esperança que me consome, sou um otimista incorrigível, tenho a certeza que dias melhores vêm por aí.

Afinal, neste começo de ano, nos meus mais de setentanos, já passei por momentos piores. E, não será a tal pandemia que vai me fazer mudar de atitude. Tenho a certeza que neste ano que tem começo não só venceremos a crise, como também sairemos vencedores nas lutas tantas que nos esperam.

Conheço um amigo, gente simples da roça, vizinho da minha pequena gleba de terras, de nome Antenor, caboclo de mãos caludas, com o qual sempre me encontro nas tardes de sábado quando retorno à cidade, sempre paro, e com ele troco uma centena de palavras.

Naquele sábado, segundo dia do ano, quando me deparei com aquela figura singela, era mais ou menos quatro da tarde, ele estava prestes a ordenhar as vacas.

Estacionei a caminhonetinha prateada ao lado da porteira.

Fui convidado a tomar um cafezinho feito naquela hora.

Antenor, no alto dos seus quase oitenta anos, parecia menos, assim que terminou a última tarefa do dia, já estava prestes a tomar banho, depois iria dormir com as galinhas, leite tirado, vacas de bucho cheio, adentramos a sua casinha modesta.

Dona Margarida já estava com a mesa posta. Com que simpatia ela me recebeu.

Era mais ou menos cinco e meia da tarde. Depois de um cafezinho feito na hora, acompanhado de umas guloseimas que sé ela saberia fazer, entabulamos uma prosa boa.

Falamos do ano que passou. Comentamos sobre a tal pandemia. Inclusive sobre as mortes que ceifaram vidas.

Antenor me dizia, com aquela carinha sorridente, na sua banguelice brejeira, que só deixaria a sua rocinha encantada no dia da sua morte.

E eu retruquei: “quer saber? O senhor vai ainda enterrar muita gente. Não desejo nunca segurar a alça do seu caixão. Com a saúde que Deus lhe deu tenho a convicção que o senhor vai ultrapassar os cem”.

Era quase seis da tarde quando nos despedimos. E eu prometi voltar na semana seguinte.

Antenor me acompanhou até a porteira. Fui presenteado com um queijo recém-saído da forma.

Uma vez na cidade, pensando no ano que nos espera, neste quatro de janeiro, já no consultório, prestes há recomeçar o dia, o ano, meus pensamentos voltaram à boa gente da roça.

Pra eles não tem tempo ruim. Faça chuva ou acalente o sol, lá estão a eles na sua labuta constante. Nunca os vi de cara amarrada. Nem ao menos usando máscaras.

Pra eles a tal pandemia não passa de uma gripinha marota. Felizmente, não sei que seria da gente sem aquelas pessoinhas trabalhadoras.

“Ano novo, vida nova”. Foram estas as palavras, em nossa despedida, naquele sábado, quando de minha passagem junto aqueles amigos os quais admiro tanto.

Deixe uma resposta