O dia em que morreu a esperança

Dizem que a esperança é a última que morre.

Mas, segundo fui informado, domingo passado, não foi bem assim que aconteceu.

Esperança era uma linda menina.

Nascida num lugarejo pequeno, de pais que a amavam, aquela menina esperta, que passava os dias a espera de dias melhores, nela cabia a esperança de que um dia aconteceria o imprevisto.

Eram pobres de fazer inveja ao mais paupérrimo das criaturas.

Viviam num casebre fincado no alto do morro. Era uma construção condenada pela prefeitura.

Mas, como não tinham condição de se mudarem, ali passavam os dias, esperando tempos melhores. Que não chegavam nunca.

Esperancinha estudava numa escolinha ali pertinho. Era considerada aluna acima da média.

Esforçada, não perdia um só dia de aula. Só tirava notas boas. E como era linda aquela menina.

Daí, pela sua beleza e inteligência, Esperancinha sofria bullying dos outros coleguinhas.

Era pura inveja. Todos os defeitos que nela apregoavam eram reflexos de sua beleza que saltava a olhos vistos.

E a linda Esperancinha crescia. E com ela toda a delicadeza daquela meninazinha que distribuía graciosidade por onde passava.

Aos quinze anos, completos naquele mês de julho, os pais da garota comemoraram com uma linda festa. Afinal era seu debut na sociedade. De meninazinha linda passava a ser quase uma adulta.

E Esperança cada vez mais se destacava por onde caminhava. Era motivo de orgulho para toda a família.

Até que um dia instalou-se no mundo inteiro uma doença de natureza virótica. Era uma pandemia que ceifava vidas.

Esperança, aconselhada pelas autoridades de saúde, permanecia confinada dentro de casa.

Não saía às ruas por nada neste mundo.

Numa tarde de domingo eis que na pequena casa aparece uma senhora aparentada, vinda do nordeste. Ela se apresentou com uma tia por parte do pai.

A senhora tossia. Mostrava sinais de que estava febril.

Os pais de Esperancinha temiam o pior. O que de fato aconteceu.

Uma semana depois a garota começou a apresentar sintomas da tal virose.

Amanheceu tossindo. A temperatura corporal elevou-se. Uma falta de ar inexplicável tomou conta da menina moça.

Os pais de Esperança levaram-na a uma unidade de saúde perto. Os sintomas foram aumentando, a garota piorando, até que a levaram a um hospital onde foi internada numa enfermaria.

Por falta de vagas numa unidade de tratamento intensivo a mocinha acabou sendo transferida a outro nosocômio.

Infelizmente ali veio a falecer. Mais uma vítima inocente da virose maldita.

Naquele dia fatídico morreu a pobre Esperancinha. Antes de completar seus dezesseis aninhos.

Era dia sete do mês de julho. O dia em que morreu a esperança.

 

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