“Não sei o que vai ser de mim”

Quantas vezes fiquei na indecisão sobre tantas coisas.

Qual o caminho seguir. Por onde ir. Se fico. Se sigo adiante.  Se retrocedo. Se paro por um instante.

Naquela indecisão do momento acabo parando. Logo depois, indefinição sanada, acabo indo pelo caminho certo. Mas, se cometo senões, não me arrependo. Aprendi que errando é que se acerta. Foi exatamente isso que a vida me ensinou.

Felizmente a maior parte das minhas decisões foram acertadas.

Tanto a profissão eleita. Quanto a família que me foi presenteada, tanto quanto aquela em que nasci. Assim como aqueloutra que escolhi.

Hoje tenho dois filhos. E três lindos netos. Penso que minha família para por aí. Pelo menos durante o tempo de vida que me resta.

Já aquele senhor, desempregado faz tempo, ainda jovem, já não teve a mesma sorte que eu tive.

Hoje ele sofre as amarguras do desemprego. Vive a fazer bicos. Uma hora capina lotes baldios. Noutra ele volta a casa sem nenhum dinheiro no bolso.

Josefá tem três filhos. Três boquinhas famintas a alimentar.

Em tempos idos ele já foi funcionário de um banco. Aos trintanos se viu no olho da rua.

A casa bancária alegou contensão de despesas. E o pobre Josefá, ainda jovem, foi o primeiro da lista a ser demitido.

Passou tempos difíceis na doce ilusão de voltar ao trabalho. Morando em casa alugada em pouco tempo começou a não pagar o aluguel.

Não tinha como voltar a casa. Com três filhos a tratar, em idade escolar, acabou por tomar uma atitude que iria se arrepender depois. Retirou os filhos da escola. E eles todos acabaram por ficar em casa. Sem poder aprender nada.

O tempo passou. O inverno sucedeu o outono. O frio fazia enregelar os ossos.

E a família do pobre Josefá acabou vindo a morar na rua.

Foi naquela segunda-feira, do mês de julho, quando os encontrei debaixo de um viaduto.

Parei um cadinho para falar com ele. Fui atraído por aqueles olhos tristes.

Tive tempo de escutar a sua história. Da boca do pobre pai.

“Por favor. Me dê um auxílio. Estou desempregado. Com três filhos a tratar. Já tive de tudo e hoje nada tenho. Fui funcionário de um banco importante. Quase cheguei ao cargo de gerente. nunca tive falta. Já agora me falta tudo”.

“Não sei o que vai ser de mim.” Finalizou ele.

O que pude fazer foi depositar em sua mão uma nota de vinte reais. E desejar-lhe boa sorte. É o que mais precisava.

Hoje, nesta manhã linda de começo de julho, penso em pessoas desassistidas pela sorte. Que vivem à margem da sociedade. Mendigando migalhas. Esmolando em esquinas das grandes cidades.

Algumas vezes pensava o que vai ser de mim. Já o pobre Josefá bem sabe o que foi feito dele.

 

 

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