A bancarrota do Zé Ninguém

Tem gente que não tem sorte na vida.

Vive a vida sem saber desfrutá-la.

Se bem que para ter sucesso mister se faz além do trabalho duro, um dedinho de dedicação, paixão pelo que faz, e uma pitadinha de sorte. Ingredientes fundamentais para que a feijoada da vida seja apreciada por todos que dela fazem parte.

Como exemplo cito um velho conhecido. Alcunhado de Zé Ninguém. Não sei por vontade de quem. Ou por que causa foi apelidado assim.

Ele tinha poucos estudos. Não passou do segundo grau. Se bem que por vontade próprio iria mais longe. Pena que foi afastado da escola por falta de compostura. Na hora da aula não prestava atenção nos ensinamentos da professora. E vivia de celular na mão.

Aos menos de vinte anos fez um cursinho rápido para ser queijeiro. Empregado num lacticínio ali durou pouco tempo.

Os queijos feitos por ele azedaram logo. Faltava-lhe higiene. Mal lavava as mãos.

Uma vez no olho da rua tentou abrir um negocinho. Uma banca de verduras, numa feira livre da cidade, foi sua segunda ocupação.

No entando pouco durou seu metier. Acordar cedo não era com ele. E as verduras eram perdidas por falta de qualidade.

Aos trintanos passou de verdureiro a quituteiro.  Comprou uma padaria. Entretanto os pães ali fabricados tinham sabor de coisa velha. E não agradavam à freguesia.

Zé Ninguém não tinha sorte na vida. Faltava-lhe o principal. Dedicação ao trabalho. E, segundo as más línguas, uma pitadinha de sorte. Elementos essenciais para se dar bem em qualquer profissão.

Aos quase quarenta anos enveredou-se por outro caminho. Decidiu-se por uma loja de um e noventa e nove. No entanto, quando ali entrava um freguês, descobria que quase nada custava menos de cinco reais.

Não precisa dizer que pouco tempo durou sua lojinha. Um mês foi o bastante.

Quase desanimado, por sorte dele, um cadinho de persistência no erro, Zé Ninguém resolveu partir para outra cidade. Quem sabe ali, respirando outros ares, a sorte finalmente bafejaria em sua face?

Mas não foi bem assim que aconteceu.

A loja de tecidos foi infestada pelos ratos. Não sobrou um pano inteiro. Todos roídos pelas ratazanas famintas.

Zé Ninguém pensou em mudar de ramo. Foi pela undécima vigésima vez.

Consorciado a um parente, aparecido naquele momento trágico, ambos resolveram abrir um açougue.

Não precisa dizer que o tal açougue foi fechado pela vigilância sanitária. Ali vendia todo o tipo de carne. Menos de boi ou vaca.

Neste mês de julho, em plena pandemia, quando saí à rua assisti a uma cena que me fez pensar no futuro do país.

Quase todas as lojas de portas fechadas. Todas elas com este anúncio: “passa-se o ponto”.

Entre elas a do Zé Ninguém. Que não dava certo com nada. Não por falta de sorte. E sim por tentar enganar o freguês.

A bancarrota do Zé Ninguém tinha uma explicação simples. Para ser dar bem em qualquer negócio mister se faz, além da sorte, a tal de competência. Aliada a responsabilidade. Um cadinho de seriedade. E tino comercial.

Ingredientes que devem ser relacionados em qualquer receita, para agradar ao paladar de qualquer pessoa.

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