A vida não tem sido fácil

Tempos difíceis estes por que estamos passando.

A crise se manifesta em seus distintos matizes. E não são cores nada agradáveis.

Ao amarelo prefiro o vermelho. Ao verde me identifico mais com o azul. Mas o cinza tem predominado. Apesar da azulice do céu que hoje me acordou.

Conheço aquele rapaz desde quando ele aqui aportou. Veio de terras estrangeiras. Embora tenha aqui nascido bem cedo emigrou a um país de língua distinta da nossa.

Inteligente, esforçado, logo aprendeu a dominar outros idiomas. Acabou ficando fluente em alemão, italiano, francês, e no inglês não ficava atrás.

Jogador de futebol de raras virtudes. Não fazia feio com a bola nos pés. Seu salário era muito maior que aquele que percebia por aqui. Jogando em clubes menores, de segunda ou terceira divisão.

Passou quase seis anos em terras estranhas. Mas logo se adaptou por lá. Com o que percebia conseguiu comprar em sua terra dois apartamentos. Mas a saudade falou mais alto. E retornou ao seu rincão tempos depois.

Aqui constituiu família. Um filho lindo veio a abençoar aquele lar.

Tempos se foram. Verões se transformaram em primaveras.

E o meu amigo, dedicado à família, pai exemplar, nos dias atuais experimentou o sabor amaro da crise. O que tinha comprado foi passado adiante. Os aluguéis que recebia, sua única renda, acabaram se transformando em nada.

Um dia destes o encontrei perto de onde moro. Ele estava vagando sem ter aonde ir.

Foi quando escutei a sua história. Seus tempos de glória. Suas derrotas, a situação de desespero em que vivia nos dias atuais.

Teve de vender tudo que possuía. Vivia à custa de bicos que fazia.

Mas, na atual situação, vivendo nesta crise que nos assalta, tudo que era bom se transformou em tragédia.

Acabou por perder a esposa. Que levou o filho amado em sua companhia.

Morava de favor na casa de um amigo. Devido a uma lesão na panturrilha teve de abandonar o futebol.

Foram tempos difíceis aqueles. Ainda jovem, nem bem completara trintanos, o meu amigo agora vive pelas ruas. A mendigar migalhas. A sua inteligência e capacidade em nada o ajudou a conquistar um trabalho digno. A fluência em outras línguas não o fazia diferente. O desemprego assolava o nosso malfadado país.

Naquela tarde, deste mês, um dia lindo, quase inverno, quando me deparei com aquela figura, desolada, foi que pensei, cá comigo: “a vida não tem sido fácil. Tomara passe logo este estado de coisas. Não dá mais para suportar tamanha desventura”.

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