Sem rumo

Naquela manhã chuvosa Antenor mal dormiu durante a noite.

A semana não estava sendo fácil. Desempregado, solitário, o pobre trabalhador, vindo do distante nordeste, a cata de emprego, passou meses e anos sem encontrar trabalho.

Sem formação profissional, não estudou por falta de oportunidades, em criança mal conheceu os pais, foi criado pela avó, por sorte não se enveredou pelo caminho do mal. Apesar de tudo contribuir para um destino previsível.

Aos dez anos, completos, conseguiu a primeira chance de emprego. Antenor nasceu numa cidadezinha perdida no sertão da Bahia. Ali, quando chovia era uma festa. Pena que isso acontecia raras vezes durante o ano.

E como seus pares teve de emigrar para o sudeste, num pau- de- arara, como diz um certo ex-presidente, o qual não deixou bons exemplos de austeridade e competência.

Naquela manhã chuvosa, aos trinta anos, Antenor mais uma vez deixou a pensão modesta em busca de trabalho.

Tomou um cafezinho magro numa padaria da esquina. Aquela refeição frugal levou-lhe quase todas as moedas que trazia no bolso.

Restava-lhe apenas alguns reais para passar o resto do dia.

Era uma quinta-feira de janeiro. Dia cinzento. Escuro, sombrio.

Antenor embarcou no ônibus que o levaria ao centro da cidade. São Paulo nunca lhe pareceu tão hostil.

Ainda cedo, por volta das seis da manhã, dirigiu-se a uma fábrica onde eram ofertadas vagas.

As portas ainda estavam fechadas. Uma fila enorme se formava defronte a porta. Mais de mil pretendentes esperavam a mesma chance do infeliz Antenor.

Desnecessário dizer que ainda não foi desta vez que o jovem teve de desistir do seu intento.

Quem sabe noutro dia? Só o futuro diria.

Naquele dia chuvoso Antenor passou mais uma vez a noite em claro.

Acordou sem ter dormido. Sonhou um sonho colorido.

Que finalmente seus sonhos seriam concretizados.

Deixou a pensão mais aliviado. Tomou o mesmo ônibus de sempre. Mais ainda lotado que da vez passada.

Durante o trajeto longo, naquele amontoado de indivíduos, sentiu uma mão boba passando pelo bolso de trás da calça.

Apenas ao desembarque percebeu que tudo que tinha, celular, a carteira com todos os documentos, não mais estavam em seu lugar.

Antenor havia sido roubado. E como fazer para recomeçar tudo de novo? Nesta hora intranquila parou num banco da praça. Pensando no que fazer naquela hora aflitiva.

Foi quando foi abordado por um policial mal encarado. Quando ele lhe pediu os documentos não teve como apresentá-los.

Inútil foi a explicação que todos eles haviam sido afanados.

Antenor passou dois dias e duas noites inteiras numa cela lotada. Foi solto como réu primário.

E mais uma vez, perdido na desilusão, foi caminhando lento, até a sua morada.

Como não tinha como pagar a estadia foi despejado. De repente se viu no olho da rua. Sem teto, sem documentos, sem a menor ilusão de conseguir trabalho.

Foi quando o encontrei vagando sem rumo pelas ruas da cidade. Mais um entre tantos

desiludidos cidadãos brasileiros.

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