São inúmeras as perguntas que o médico faz ao paciente que o procura pela primeira vez.
Não sem antes começar por um cordial “bom dia”. Ou tarde, segundo a hora da consulta.
Um fraterno aperto de mão se faz necessário.
“Qual o motivo da sua consulta? O que o aflige? Qual a sua queixa? Algo que possa fazer para ajudá-lo”? E assim por diante.
Muitas vezes a o motivo da consulta não é tão evidente. O paciente não se mostra a vontade. E torce os dedos das mãos numa atitude que bem demonstra a sua incapacidade de se abrir.
Assim muitas vezes aconteceu comigo. Principalmente quando se refere à gente simples da roça. Que comparece a consulta na intenção de fazer o tal exame por muitos considerado vexaminoso. O qual é deveras importante como prevenção do câncer de próstata.
Uma vez, bem me lembro, aqui mesmo no consultório deu entrada um destes caboclos envergonhados. Parece que aquela foi a primeira vez que alguém o levou a fazer uma consulta. Já que a mídia, recomenda, neste mês de novembro, que a partir dos quarenta e cinco se deve fazer o tão temido exame da próstata.
Quem trouxe o Seu Joaquim à consulta foi a sua esposa. Uma senhora que aparentava ser sua filha. Muitos janeiros mais jovem.
Ela ficou do lado de fora da sala. Não sem antes pedir a minha secretária que primeiro falasse comigo. Na intenção de explicar a razão da consulta do marido.
E como era loquaz do dona Margarida. Falava pelos cotovelos. Durou nada menos que uma hora inteira a nossa pré-consulta.
A seguir, ainda muito envergonhado, Seu Joaquim adentrou à minha sala.
Para quebrar o gelo perguntei-lhe de onde veio. O que plantava na sua rocinha. E se ele era feliz naquele lugar ermo.
Foi então que o consultante parece que simpatizou com a minha pessoa. Falamos de banalidades. Que a chuva daquele final de ano estava sendo boa. Embora o preço do leite pago não fosse lá essas coisas a produção dava pro gasto. E a pastaria estava verdinha. Que coisa boa! E as jabuticabas? Seu Joaquim acabou me convidando para uma visita. Antes que as maritacas dessem cabo daquelas frutinha doces.
Ainda me lembro de qual foi a primeira fala que saiu da minha boca. Foi assim que cumprimentei ao consultante. No exato momento que ele adentrou a minha sala.
“Bom dia! Como tem passado”?
Seu Joaquim não regateou ao cumprimento.
“Bom dia”. Apertou-me a mão. Não sem antes desviar os olhos da minha direção.
Continuando a prosa, para colocar o paciente a vontade, a ele mais uma vez perguntei, sem a menor intenção de complicar a sua vida, muito menos a minha, foi exatamente isso que falei: “o que o trouxe até aqui”?
Seu Joaquim coçou a cabeça, e desferiu, à queima boca, esta inspirada resposta: “quer mesmo saber? Além das minhas pernas foi uma condução que parou exatamente perto de aqui. E ela volta a minha roça de agora a duas horas. Quando vou voltar a minha roça”.
Acabamos amigos depois do mal falado toque. Ele se despediu de mim com um sorriso no rosto. Prometendo voltar no ano que vem. Se Deus quiser.