Mais um que se foi

Ainda me lembro daquela rua. Daqui do alto ela se deixa ver.

Foi lá que passei parte da minha infância. Não foi exatamente ali que nasci.

Aquela casa, de paredes caiadas de saudade, agora cedo está de janelas fechadas.

Aquele quartinho, dos fundos, foi onde acordei para a vida. Ali passei minha infância. Se bem me lembro, até os dezoito anos completos dali quase não arredei pé.

Como aquela rua se transformou. A olhos vistos ela se metamorfoseou.

Agora ela está calçada de um asfalto duro. Por baixo ainda se podem ver paralelepípedos. Antes, nos meus tempos de criança, era de terra batida. As casas daquela rua eram habitadas por famílias. Velhas conhecidas.

Consigo enumerar algumas delas. Perdoem-me aquelas que foram olvidadas. Não foi por descuido. E sim por mero esquecimento.

A caixa d’água é a mesma. Abaixo, onde hoje é o Edifício Rodartino Rodarte, moravam os meus avós. Foi meu saudoso pai que o edificou.

A seguir, descendo a mesma rua, morava outra família velha conhecida. Ainda me lembro do senhor Meier. Que já partiu rumo ao infinito. Deixando sucessores que se mudaram a outra rua. Hoje a velha casa deixou lugar a um restaurante, muito frequentado por quem passa por ali.

Ombreando aquela moradia ainda mora um descendente direto de um colega de ternas lembranças. Doutor Zé Botelho, um sábio esculápio, um dia me auxiliou num ato cirúrgico naquele hospital que ainda existe.

Descendo a rua, pelo lado direito, ali residia um senhor, pai três amigos. Manoel, Deise, Ike, dois ainda vivem. O mais velho se foi, há tempos idos.

A seguir, em ordem desordenadamente, minhas lembranças fugidias se lembram de um fazendeiro, dono de terras herdadas pelo filho mais velho. O Fábio Carvalho faz parte de minhas recordações de infância. Assim como seu irmão, carinhosamente apelidado de Piriquitão, partiu prematuramente.

Na casa de baixo morava outro fazendeiro. Seu Tuchê, pai de uma ninhada de filhos, já não existe mais. A não ser em minhas lembranças ocasionais.

Fazendo divisas com aquela casa morava um casal de professores. Quem não se lembra do doutor Tancredo Paranaguá. E de sua esposa a amantíssima dona Nair? Hoje, naquele local, está em final de construção mais uma edificação.  Mais um prédio será destinado a outra clínica. Mais uma das tantas que já existem por ali.

Outra morada ainda existe. Só que o antigo morador mora no céu. O respeitado fazendeiro Gabriel Lopes deixou saudades. Seus filhos e netos o pranteiam.

Intimamente ligado aquela morada, que hoje se transformou num estacionamento, morava outro amigo nosso. Paulo Reis, vizinho de cima, da minha casa, da mesma forma partiu a outra morada. Que não se deixa ver. Mas existe.

A casa dos meus pai ainda me olha de janelas fechadas. Naquele quartinho, que já foi meu, dorme a querida Rosinha. Minha irmãzinha mais nova. A quem faço uma visita todas as tardes. Quantas saudades daquele tempo bom que se foi.

Na casa de baixo morava um tio. De mesmo sobrenome Rodarte. Tio Chico, meu primeiro revisor, já cansado das lidas advocatícias num passado perto nos deixou.

Ah!, Já ia me esquecendo. Outro tio, por parte de mãe, morava mais em cima. Tio Rui, pai do Pedro e do Luís Carlos, partiu prematuramente em direção ao céu. Pedro, primo do coração, nos deixou órfãos da sua pessoa estimada. Há alguns anos atrás.

Descendo a mesma rua, naquela ladeira empinada, moravam outros vizinhos. E como me lembro do Rubão, com suas tiradas geniais, um sábio em verdade, costumava polir metais naquele passeio. Era ali que nos encontrávamos. Assim como seus irmãos- Dionísio, Dirceu, Consuelo e Augustinha, que ainda mora ali. De vez em quando nos cruzamos. Naquela mesma rua.

Não vou descer mais.

Subo pelo lado direito.  O velho clube, da minha idade, ainda existe, bastante remodelado. E graças a ele que mantenho a forma. Naquela academia onde me exercito todas as tardes.

O vetusto hospital me traz saudosas lembranças. Foi ali que ensaiei meus primeiros passos na vida de médico. Agora ele é considerado nosocômio modelo em toda região.

Outros meninos da Costa Pereira moravam na mesma rua. Numa casa situado abaixo do nível da rua, que foi demolida para ceder lugar a outro edifício. Tratava-se de uma família pródiga em descendentes. Eram exatamente dezesseis irmãos. Se bem me lembro.

Duas residências faltam a serem enumeradas. Não me recordo quem morava na casa de cima.

Já na primeira casa da rua ali habitava um casal simpaticíssimo. Seu João Ribeiro e dona Violeta tiveram três filhos. João Batista, Maria Tereza, e Luciano, meu preclaro amigo.

Hoje, ao nascer do ia, me foi dada uma notícia inesperada. Veio a falecer mais um amigo da Costa Pereira.

Zé Abílio, filho mais velho do doutor Zé Botelho, deixou-nos órfãos de sua amizade.

Imagino a dor de sua família. Da simpática Dorinha, de suas filhas amantíssimas, e quem teve a felicidade de seu convívio fraterno.

Ontem perdi mais um amigo da Costa Pereira. Zé Abílio se foi. Deixando um vazio enorme em nossas lembranças mais ternas. E uma saudade imensa em nossos corações.

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